Ana Benavente, antiga secretária de Estado da Educação e Inovação num Governo socialista, dizia a 8 de Março de 2008, numa entrevista concedida ao Jornal de Notícias: «Um país que condena na opinião pública os seus professores está a prestar um mau serviço ao país, porque depois nem pais nem alunos os respeitam se eles são desrespeitados pela tutela.»
Um ano depois, os responsáveis da Educação demonstram não ter aprendido nada e que não seguem vozes discordantes, ainda que sejam do mesmo partido.
Vale, pois, a pena ler ou reler a entrevista daquela antiga governante.
“Tem sido uma das vozes discordantes que mais se tem feito ouvir dentro do Partido Socialista (PS). Ex-secretária de Estado da Educação e Inovação, Ana Benavente defende mais diálogo e uma inversão nas políticas para o sector.
JN|Também comunga da ideia de que o modelo de avaliação dos professores é demasiado burocrático?
Ana Benavente|Claro que sim. É imposto de fora para dentro, não tem em conta o contexto das escolas, põe, por vezes, professores com menos experiência e sem formação específica para tal a avaliar o trabalho dos colegas. É um tipo de avaliação bancária, que terá sentido em algumas empresas, não na instituição escolar.
Como vê as manifestações dos últimos tempos?
Os sindicatos não controlam minimamente estas manifestações de profissionais postos em causa, desconsiderados e maltratados. Um país que condena na opinião pública os seus professores está a prestar um mau serviço ao país, porque depois nem pais nem alunos os respeitam se eles são desrespeitados pela tutela.
A ministra ganhou os pais?
Não, ganhou a CONFAP. Temos visto nas manifestações muitos pais preocupados com toda a agitação a meio do ano lectivo. Todo este mal-estar vai-se repercutir no trabalho que é feito pelos alunos. A escola pública não é do Governo, é da sociedade portuguesa. E os cidadãos estão mais preocupados com a melhoria da escola do que com os calendários eleitorais.
Se estivesse no Governo, o que fazia?
O Governo daria uma grande prova de maturidade democrática se parasse e dissesse com tanta oposição, vamos parar para dialogar e recomeçamos no próximo ano lectivo com medidas mais consensuais. Porque nada muda à força. O que muda à força é a ditadura, que consegue calar as pessoas.
A ministra deve ser demitida?
Não, porque é uma pessoa com competência, vontade, força. O problema não é a ministra, mas o modo como tem conduzido as políticas e as políticas educativas em si. A instituição escolar tem de evoluir virada para o futuro, e não virada para o passado. E esta política de freio curto, de controlo e rigidez burocrática é uma tentativa desesperada de retorno ao passado.
É assim que vê o Governo, como saudosista do passado?
Sim, vejo como um Governo muito autoritário, com pouco respeito pelos mecanismos de regulação democrática. Acredito que possa ainda inverter a marcha, por força de ouvir as críticas dentro do próprio PS. Mas tem demonstrado uma estratégia, um modo de estar de uma sobranceria que eu identifico muito mais com um partido de centro-direita do que com o PS, que é o partido a que dominantemente, segundo a sociologia política, pertencem os professores.”
Fernando Basto
Jornal de Notícias on-line Sábado 08.03.2008
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