A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, deu uma entrevista ao jornal Diário de Notícias, na qual repete chavões utilizados ao longo do seu mandato, fazendo crer que tudo corre bem no mundo da Educação. Só os ingénuos acreditarão naquilo que ela afirma. Aqui fica um extracto da mesma entrevista.
O modelo de avaliação que quer implantar ainda não passou da versão simplificada?
Sim, mas no essencial a sua estrutura de princípios não difere muito do modelo inicialmente proposto. Entendeu-se que há um caminho a percorrer mais lento do que inicialmente gostaria, mas não modifica a natureza do objectivo.
Mais lento porque os sindicatos dos professores não aceitam essas medidas?
Sim. Na realidade, não aceitam a avaliação. Escudam-se por detrás dos argumentos de modelos deste ou daquele tipo de avaliação, mas o que acontece é mesmo a rejeição da avaliação.
Os professores recusam ser avaliados?
Há uma rejeição que se pode exprimir através dos mais diversos argumentos. De que não é este o melhor modelo, que não é com estes professores, que não é na escola... É sempre assim porque, quando não estão de acordo, aí, todos os argumentos são válidos para contestar.
É da opinião que os sindicatos são contra porque os docentes evitam ser avaliados?
Não diria isso, porque acho que muitos professores querem ser avaliados e a prova é que houve uma grande adesão mas também há muito receio neste processo. E aqui os bons professores podiam ser um motor de mudança, porque não há nenhuma razão para um bom professor ter medo da avaliação. Os bons professores não podem ter medo nem misturar-se no ruído que apela à indiferenciação e a considerar que todos são iguais. Houve cem mil professores sujeitos à avaliação este ano e é por aqui que o terreno tem de ser conquistado, a bem das escolas e dos próprios professores. Há uma parte significativa de professores que tem medo da consequência.
Muitos não entregaram os objectivos.
Não é grande o número dos que não entregaram os objectivos ou que continuam a rejeitar a avaliação. A minha expectativa é que tudo se ajuste.
Defende a avaliação mas durante a sua carreira académica não foi avaliada?
Não?
É uma pergunta, o que estou a fazer.
Gostava de dizer que não são as experiências pessoais que dão a legitimidade para a tomada de decisão, nem acho que a legitimidade política venha dessa perspectiva. A legitimidade política vem da legitimidade democrática e os ministros são apenas agentes na condução da política, havendo muitos aspectos que estão para além da própria experiência pessoal. Mas, para que a pergunta não fique sem resposta, e apesar de considerar que não é relevante, não é por eu ter sido avaliada quatro vezes ─ com prestação de provas públicas perante júris externos que avaliam a carreira docente ─ que acho que os professores têm de ser avaliados. O problema disto ser muito sentido pelos professores é porque os sindicatos demoraram 30 anos a construir a situação em que estamos, a que anula todas as diferenças. A única diferença que os professores aceitam é a do salário: eu sou mais velho, ganho mais, tu és mais novo, ganhas menos. Não importa o que fazem ou as responsabilidades. Isso é resultado do trabalho sindical de muitos anos. Eu compreendo as reacções, mas não significa que as aceite. O que estava a acontecer põe, a prazo, em causa o próprio sentido de carreira.
Da ronda de negociações que se verificaram esta semana pouco resultou porque a posição da ministra não muda.
Não é verdade! Os sindicatos tiveram oportunidade de propor alterações. Não o fizeram e nada mudou porque o que querem desde o início é parar e anular os efeitos da avaliação. Neste momento, anulá-los significa premiar os professores que não a fizeram e castigar os que participaram. É dizer a todos os que terão classificações de muito bom e excelente que não vale nada.
Quantos anos calcula serem necessários estar no ministério para ganhar a batalha?
Não coloco as coisas nesses termos. Eu diria que mais importante que as pessoas são as políticas e, portanto, não é por uma pessoa se manter, por ser este ou aquele ministro, que o sentido das políticas que define e as condições para a sua execução o torna indispensável.
Que tempo demorará a impor a avaliação?
Não é um problema de estar este ou aquele ministro, temos de ter políticas com objectivos e com ambição. Existe um relativo consenso na sociedade sobre as matérias da Educação, por isso foi relativamente fácil aprovar o alargamento da escolaridade obrigatória até aos 18 anos. Está relativamente consensualizada a necessidade de diversificar a oferta formativa ao nível do ensino secundário, foi relativamente fácil consensualizar o inglês... Depois, há zonas em que o consenso é menor, mas, aí, o que devíamos era ter a ambição de aproveitar as áreas de grande convergência para dar passos gigantes, poupar e recuperar atrasos. O programa Novas Oportunidades, por exemplo, revelou que havia um milhão de portugueses disponíveis para voltar à escola.
Diário de Notícias Domingo, 26 de Julho de 2009
Comentário:
Bem pode a ministra da Educação destilar o seu fel contra os sindicatos e os professores que já ninguém lhe dá crédito. Continuará a fazer de conta que governa até que seja substituída no Governo. Quem não aprende nada com a experiência e não procura os consensos não pode estar em funções governativas. A ministra não admite que não conseguiu impor o seu modelo de avaliação, o que foi uma nítida derrota da sua política. Por outro lado, vangloria-se do programa Novas Oportunidades que revelou «que havia um milhão de portugueses disponíveis para voltar à escola». Terá interpretado bem a vontade dos portugueses? Haverá um milhão de portugueses disponíveis, não para voltarem à escola, mas para fazerem de conta que lá voltam!… Aliás, foi no que a política de Maria de Lurdes Rodrigues para a Educação se tornou: um faz-de-conta em todos os aspectos. É tempo de mudar!
Nenhum comentário:
Postar um comentário