domingo, 26 de julho de 2009

OPINIÃO > Armindo Oliveira. «Uma questão de educação e de respeito»

N

ada mais. Simplesmente, educação e respeito. Educação pelas pessoas que estão ao nosso lado e respeito pelo espaço público onde estamos inseridos. Não se pede mais nada. Tudo muito simples. Educação e respeito. Isso mesmo. Se assim fosse, tudo era mais fácil. Sem atritos, sem desvarios, sem confusões.

Uma senhora, já entrada na idade, lia descansadamente a sua revista. Ao seu lado, outros leitores liam também o seu jornal. É uma forma agradável de passar uns breves momentos ao sol e bem sentados nos espaços de leitura que algumas praias criaram para os seus veraneantes. Iniciativa louvável. Deveria ser extensivo a todas as praias deste país. Esta iniciativa parece não implicar dispêndio significativo de verbas para quem suporta estes gastos. Tudo muito cultural e muito informativo. É, ao mesmo tempo, um bom estímulo à leitura e à actualização as novidades, boas e más, que se passam no País e no Mundo. Numa zona contígua, três campos de voleibol são motivo óbvio e suficiente para “prender” alguns jovens na prática desta modalidade interessante e muito concorrida nas praias. Aí, os jogadores de ocasião divertem-se e exercitam as suas capacidades físicas e atléticas. Até aqui tudo bem e recomenda-se até uma maior adesão e um maior empenhamento da juventude a este tipo de actividades lúdicas ao ar livre e ao sol.

A questão que me leva a reflectir nestas actividades de Verão ― desporto, lazer e leitura prende-se com o comportamento expresso por alguns jovens de hoje e a forma como se relacionam e interagem num contexto humanizado e público. A praia é um local público que merece o nosso respeito. As pessoas que frequentam esses espaços públicos ainda merecem mais o nosso respeito e a nossa consideração. Os jovens ou seja quem for não têm o direito de importunar quem está sossegado a usufruir de um merecido descanso. Os jovens ou seja quem for têm o dever de serem contidos nos gestos, nas atitudes e na linguagem.

Estavam as pessoas entretidas nas suas leituras e chegavam aos seus ouvidos um palavreado despropositado, gritado e obsceno. É insuportável aguentar, impávido e sereno, tamanha falta de educação e de respeito. Como é possível desbocar tanta asneira e tanto disparate junto?

Falta educação em casa... lamentava-se incomodada a senhora que estava a ler a sua revista. A maior parte dos leitores já não esboça a mínima reacção. Tudo muito natural. Não há nada a fazer. Já se habituaram à chafurdice e mais vale estar calado, fazendo de conta que não se ouve nada para não se ter aborrecimentos. Esta linguagem torpe e indecorosa, de facto, aborrece um santo.

Em casa, os pais, muitos pais, não têm tempo para os seus filhos. Estão muito ocupados. Têm outras tarefas mais importantes. Os filhos não são coisa importante e dão muito que fazer.

Em casa, os pais dão mau exemplo aos seus filhos. Os filhos, por sua vez, seguem os passos dos seus pais. Tudo muito natural e muito autêntico. E diz o ditado popular na sua sapiência intemporal: quem sai aos seus, não degenera. Tudo muito real e muito concreto. E mais a mais, é uma questão de hábito e de fazer ouvidos de mercador. Já ninguém admoesta. Já ninguém educa. Já ninguém reage. Perdão, compete à escola e aos professores assumir essa responsabilidade. A culpa só pode ser da escola que não educa e dos professores que não ensinam e não se responsabilizam pela educação dos filhos dos outros.

Que sociedade estamos nós a construir?! Sem valores e sem princípios?! Sem ética e sem moral?! Sem educação e sem respeito?!

Armindo Oliveira

Diário do Minho Ano XC | N.º 28 569 |

SÁBADO | 25 de Julho de 2009

Comentário:

Terá a pessoa que escreve este artigo intervindo, para pôr cobro ao tal palavreado dos jovens? Se o fez, não no-lo diz. Mas acredito que não tenha movido uma palha, para mudar aquilo que o incomodava.

Há alguns anos, quando eu assistia a um jogo de futebol de um escalão distrital, a meu lado estava um adulto que gritava palavrões. Chamei-o à atenção, pelo facto de haver crianças no recinto. A resposta do indivíduo foi peremptória: «Quem não quer ouvir, que tape os ouvidos!»

Ora com exemplos destes entre os adultos, inclusive na televisão, como poderão os jovens usar uma linguagem que não recorra aos palavrões?

No que diz respeito aos professores, eles apenas podem chamar à atenção as crianças e os jovens quando lhes ouvem dizer palavrões e fazem-no. Mas contrariar o que vem de casa e da rua, não é uma tarefa fácil!...

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