Orientações contrárias para a correcção do exame levaram a notas diferentes para respostas iguais
14.07.2009 - 11h57 Clara Viana
Nem todos os professores correctores receberam os dois e-mails que foram enviados pelo Gabinete de Avaliação Educacional (Gave) a propósito da correcção de duas questões do exame do 9.º ano de Língua Portuguesa, que, em conjunto, totalizavam 14 pontos em 100. Como a segunda orientação contrariava a primeira, houve estudantes a quem foi atribuído zero porque, na pergunta seis, em vez de “autónomo”, puseram “só faz o que quer”, e outros que, com a mesma resposta, obtiveram dois, apurou o PÚBLICO.
Uma professora correctora explicou que os dois e-mails recebidos correspondem a duas fases distintas do processo de correcção. O primeiro seguiu-se à reunião inicial entre o Gave e os supervisores dos avaliadores, onde são esclarecidas as primeiras dúvidas sobre os critérios de correcção divulgados logo após a realização do exame. O segundo e-mail seguiu-se à última reunião de aferição de critérios. Como habitualmente, nesta fase final, acrescentou a professora (que já por três vezes foi correctora de exames), foram dadas orientações para “abrir” mais os critérios e “aceitar outro tipo de respostas”.
Foi assim que o sinónimo de autónomo acabou aceite ou que os alunos que se tivessem enganado no nome do rei a quem Camões faz referência, a propósito de Inês de Castro, recuperaram pontuação. Esta “abertura” poderá ter contribuído para que a queda a Língua Portuguesa não tivesse sido ainda maior. “Os critérios de correcção iniciais eram extremamente fechados. Mais do que em anos anteriores”, explica a mesma professora.
O PÚBLICO pediu esclarecimentos pormenorizados ao director do Gave, Pinto Ferreira, mas não recebeu respostas. O responsável desafiou, contudo, os correctores a mostrarem-lhe as orientações escritas que dizem ter recebido, e que o PÚBLICO também viu. “Nunca se diz 'faça isto ou aquilo', mas sim 'olhe para a prova, veja pelo contexto'”, acrescentou.
Sendo um exame de Língua Portuguesa, em torno de um texto literário, o que é preciso é que o corrector tenha “bom senso”, defende a docente. Nos exames que viu, os alunos recuperaram sobretudo na composição: pedia-se-lhes para darem a sua opinião “acerca da responsabilidade de cada cidadão na preservação da Terra”. É um tema que dominam bem, disse.
Dos contactos com outros correctores concluiu também que muitos optaram por não responder a várias das questões pedidas. Como o exame só vale 30 por cento, os que vão com nível positivo acham que não têm de se esforçar, explica. Ou seja, os exames não são valorizados.
Fonte: Público
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