Os anos do chumbo
03 Agosto 2010 | 11:55
Fernando Sobral — fsobral@negocios.pt
Chumbo é uma palavra pesada. É um sentimento tóxico.
É heavy-metal para os ouvidos elegantes do Ministério da Educação, cujas mãos doces se têm entretido, nas últimas décadas, a destruir qualquer vestígio de exigência no nosso ensino. O facilitismo nacional nasce do ovo chocado pelo Ministério da Educação. O epílogo foi agora anunciado pela ministra, como um milagre esperado: nasceu uma nova era em que não é preciso estudar e apreender para se passar e, para, no futuro se ser licenciado. Na realidade, chumbo é uma palavra que já foi proscrita há muito em nome das estatísticas. Em seu lugar surgiu, abençoada, a palavra retenção. Chumbo significa exigência na educação e é contra isto que este Ministério luta há anos. A educação é hoje, por aqui, uma actividade bacana. Afinal, para os seus dirigentes, a educação é um acampamento hippie, sem hierarquias, sem regras e sem objectivos. O problema é que esta mentalidade bacana tem fiéis seguidores neste País, a começar por quem grita "revolução!" quando Isabel Alçada acendeu o fogo de artifício da possibilidade do fim dos chumbos no ensino obrigatório. Para ver se pega. O fim dos chumbos é o último prego no caixão daquilo a que chamávamos educação em Portugal. É mostrar aos jovens que não vale a pena o esforço, porque o facilitismo é uma forma de vida. A ministra Isabel Alçada decretou a retenção da educação. Anunciou o chumbo do bom-senso. É uma acção de graças: a ministra quer tornar Portugal uma comunidade de orgulhosos iletrados que vive em festa permanente.
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