Recentemente, a ministra da Educação anunciou que vão ser encerradas, até Setembro, 701 escolas primárias com menos de 20 alunos. Com mais este lote de encerramentos, passam a ser 3.200 as escolas primárias encerradas nos últimos cinco anos de governo socialista.
Deixando de parte as críticas a essa chamada reforma ou reordenamento, feito à pressa e aos trambolhões, neste momento, o que me preocupa são as consequências.
O fecho destas escolas significa o fim dos últimos sinais de vida de várias freguesias e aldeias do interior de Portugal. Sem escolas não há cantinas, não há refeições, bibliotecas, jardins, papelarias, além da ausência das crianças durante todo o dia, porque estão em viagem.
No distrito de Braga vão fechar 51, enviando os alunos para os mega amontoamentos, desculpem, mega agrupamentos. Mas esta segunda vaga de encerramentos de escolas, depois do encerramento dos estabelecimentos com menos de dez alunos, é apenas mais um capítulo da saga de encerramentos nos últimos anos.
Encerraram-se postos dos CTT, fecharam-se apeadeiros, porque não se justificavam as paragens dos comboios; suprimiram-se carreiras para as aldeias, porque não eram lucrativas; fecharam-se centros de saúde, maternidades, urgências, tribunais, entre muitos outros serviços. Há quem diga que o país caminha para o encerramento, se não houver mudança de rota. Não sou tão pessimista. Mas a minha convicção é que, de facto, está em curso o encerramento do interior.
Sim, porque, sem escolas, sem centros de saúde, sem correios nem tribunais, as aldeias ficam giras, interessantes para quem vá passar uma tarde, um fim-de-semana ou até umas férias. Mas não dão para viver. Esta política de fechar tudo empurra os residentes para locais mais atractivos, ou seja, para grandes centros urbanos, mesmo perdendo qualidade de vida.
A isto chama-se desertificação total do interior. Fecha-se porque não há gente, mas sem infra-estruturas, os que restam fogem. Os mais velhos vão-se aguentando, porque não estão para aturar o barulho e o rebuliço citadino. Mas os jovens vão, inevitavelmente, sair em busca de melhor lugar para viver, nem que seja no estrangeiro.
Atenção: compreende-se alguns encerramentos, quando uma freguesia pode acolher uma infra-estrutura que sirva a freguesia vizinha. Mas deve-se deixar sempre alguma infra-estrutura no lugar. Não é encerrar tudo.
Há muito que se diz que o interior está a morrer. Estes dois governos de Sócrates vão dar um grande contributo.
Diário do Minho [21.08.2010]
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