sexta-feira, 27 de agosto de 2010

«Viva o muito bom!»

De vários pontos do país chegou feedback sobre a avaliação intercalar de desempenho docente, destinada aos professores que progrediam em 2010. Nunca percebi bem a necessidade desta avaliação se, afinal, tinha terminado um ciclo de avaliação no dia 31 de Dezembro. O ridículo foi maior para os professores que progrediam a dois ou três de Janeiro…

Os dados que recolhi não são significativos de modo a poderem representar a classe mas permitem algumas conclusões. Nesta avaliação intercalar parece que de alguma forma abunda o Muito Bom! Todos os professores serão Muito Bons? Embora valha a pena perguntar o que é, afinal, um professor Muito Bom, claro que não, claro que não somos todos muito bons! Justifica esta situação a existência de quotas? Claro que não! Evidentemente que não! O que se passa então?

Este modelo de avaliação é uma autêntica palhaçada que só em casos excepcionais serve o objectivo que deveria estar subjacente a qualquer processo de avaliação – melhoria do desempenho profissional com a consequente melhoria da qualidade do serviço prestado. Muita tinta correu sobre este assunto que é ponto assente para a esmagadora maioria dos professores mas não para a tutela que pelos vistos gosta de circo… Por isso não me vou deter nesta questão.

Se os professores percebem que não há da parte da tutela qualquer intenção de melhorar a qualidade da educação através de meio nenhum e muito menos através do modelo de avaliação de desempenho, e se o modelo não tem “ponta por onde se lhe pegue” então para quê comprar brigas com os colegas? E esta é a prova mais evidente que este modelo de avaliação, feita por pares, que ainda por cima nem precisam de qualificação para exercer essa função, interfere negativamente na dinâmica da escola, no dia-a-dia escolar, e, naturalmente, entre pares que devem ter um ambiente estimulante e propício para que se desenvolva o trabalho em equipa e o espírito de equipa, nem sempre fácil de conseguir pela frequente complexidade das respostas, mesmo em situações “ideais”.

Por outro lado, se com este modelo de avaliação, não se garante que os melhores sejam distinguidos, e que, por isso, as boas práticas sejam efectivamente valorizadas, para quê insistir em fazer distinções?

Mas é pena que assim seja. Por que não construirmos um modelo de avaliação que possa ser mais um meio e sobretudo um meio através do qual melhoramos a prática docente e consequentemente, a qualidade da educação, no que a nós diz respeito? Por muito que haja a melhorar da parte dos professores, e há – basta sermos seres humanos e trabalharmos com a vida de crianças, jovens e adultos para que haja constante necessidade de criar, de inovar, de desenvolver, de melhorar, não há condições para que esse desenvolvimento aconteça a não ser por iniciativa do próprio professor, até porque este modelo de avaliação, muito longe de ser uma oportunidade de valorizar o que o professor tem de bom e partir daí para se melhorar outros aspectos, é uma caça aos pontos negativos – a completa subversão de qualquer processo de avaliação!

Assim sendo, Viva o Muito Bom!

Fonte: ProfBlog

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