Superior
Venda de teses movimenta milhares de euros por ano
por ANA BELA FERREIRA
Comprar uma tese pode custar 1500 euros. Um ‘negócio’ em crescimento na Internet
Um familiar de Teresa (nome fictício) precisava de fazer pesquisa para um trabalho universitário. Como ela estava desempregada, ele pediu-lhe para o ajudar a recolher informação nas bibliotecas. Teresa, que sempre gostou de fazer pesquisas, ajudou-o a elaborar o trabalho. “A partir daí pensei que podia fazer isto para fora”, reconhece.
A venda de trabalhos académicos é um negócio em expansão. Mas não só. Ainda há dias, a Agência Nacional para a Qualificação reconheceu a existência de um mercado ilegal de venda de trabalhos no âmbito das Novas Oportunidades e até disse já ter denunciado casos ao Ministério Público.
Os alunos queixam-se de falta de tempo e optam por comprar os trabalhos, o que lhes pode custar até 1500 euros... e a validade dos diplomas (ver caixa). Na Internet há muitos anúncios que oferecem estes serviços. Para o professor universitário e sociólogo da Educação Almerindo Afonso, a prática revela um problema “ético” da sociedade.
Teresa avisa que não faz trabalhos completos. “Já me têm telefonado a perguntar se tenho teses feitas ou se as consigo fazer para o dia seguinte. Mas eu não faço os trabalhos por inteiro; só as pesquisas”, conta. Aos 54 anos, dedica-se a este trabalho há dois e garante que não lhe faltam pedidos. Algumas pesquisas podem demorar quatro meses e custar 1500 euros.
Quem também não tem mãos a medir é Sandra, 35 anos. Há nove meses que faz teses, apresentações e monografias, e desde então já terminou dez trabalhos. “Só faço um de cada vez, mas alguns são mais exigentes e podem demorar meses”, explica. Os estudantes pedem-lhe, ainda, para rever os seus textos. “Tenho muitos casos de pessoas que escreveram o texto todo, mas como não têm confiança pedem-me para rever e fazer correcções”, admite. Para fazer a parte teórica, Sandra cobra 15 euros por página.
O desemprego levou também Catarina a vender trabalhos académicos no ano lectivo passado. A maioria das coisas que fez foram apresentações, principalmente para alunos de ciências. Este tipo de trabalho custava 60 euros.
O aumento da procura deste serviço é, para o professor da Universidade do Minho, “sinal da qualidade do sistema educativo, da falta de expectativas dos jovens e da desconfiança em relação aos diplomas”. Ou seja, “querem o certificado e não fazem o curso pelo gosto de estudar. Isto faz com que usem estratégias mais pragmáticas para ter as coisas rápido”.
O sociólogo diz que já apanhou trabalhos plagiados. “No mínimo, chumbam!” Mas até agora nunca se apercebeu de que o trabalho tivesse sido feito por outra pessoa.
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