segunda-feira, 30 de agosto de 2010

OPINIÃO > Luís Costa: «Diário de Bordo»

30 de Agosto de 2010

Depois das sucessivas tempestades, que nos levaram muitos dos marinheiros e muitas embarcações da nossa vasta frota, o mar, tal como a maioria dos nossos homens, parece agora adormecido, embora mostre uma carranca traiçoeira: ondulação fraca, mas opaca neblina.

Há já quase um mês que ninguém avista três das nossas melhores embarcações: PROMOVA, MUP E APEDE. Não se sabe nada delas. Terão desistido? Terão naufragado? Terão encontrado terra? Não sabemos. Esperemos que a dissipação do nevoeiro nos possa trazer boas novas!

A cada dia que passa, é mais penosa a navegação: os marinheiros estão desanimados e já poucos acreditam que algum dia voltarão a pôr pé em terra firme. A desorientação, a depressão e o desespero apoderaram-se de muitos dos embarcadiços, em todas as naus. Entre eles, estão alguns dos nossos mais experientes e denodados navegantes, que discutem com crescente frequência e se digladiam por tudo e por nada. Alguns capitães, tomados pela descrença absoluta, já não demandam a Índia: sonham apenas com uma ilha qualquer, onde possam sobreviver.

Temo que a falta de provisões e algumas doenças — do corpo e da mente — dêem lugar à desordem, à amotinação, à deserção e mesmo ao canibalismo.

Luís Costa

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