Sempre que arde uma mancha de carvalho, o próximo incêndio será mais forte e mais devastador. E não é preciso ser técnico do ICN para perceber que este inverno, chuvoso, iria potenciar violentos incêndios
A tragédia é cíclica: há fumo e fogo. Todos os anos, o mês de Agosto fica marcado pela devastação dos incêndios. E nem as áreas naturais —deveriam estar protegidas porque o seu estatuto especial lhes confere essa prerrogativa — escapam à avidez das chamas. Pelo contrário.
A Penada-Gerês, apelidada por um Presidente da República, em dia de comemorações, como “a jóia da coroa”, arde há vários dias. Sem tréguas. E não é só no Soajo, em Arcos de Valdevez, onde se concentram centenas de homens e mulheres no combate às chamas, bombeiros e militares, que o único Parque Nacional está a ser devorado. Em Fafião, no concelho de Terras do Bouro, as chamas também alastram, sem dó e sem piedade na indefesa natureza. De Vilarinho da Furna, o fogo atravessou a Serra Amarela e desceu à mata de Cabril, uma das zonas mais sensíveis, assim como o Mezio — e ardeu durante dias. Ontem continuava a arder.
Sem desvalorizar os outros locais, onde terrenos agrícolas e floresta se perdem irremediavelmente, é difícil perceber-se como é que o único Parque Nacional está sujeito a esta fatalidade, ano após ano.
Ninguém faz a limpeza das matas, faltam vigilantes? É já tempo do Governo, representado ora pelo ministério da Administração Interna, ora pelo do Ambiente, assumir as suas responsabilidades: dote o Parque de meios, e de gente competente, capaz de o gerir de acordo com o seu estatuto de conservação.
De nada vale, sempre que há incêndios, ministro ou secretário de Estado acorrer ao Gerês e dizer o óbvio: “É preciso prevenir.” Palavras, suaves de ouvir; impotentes, contudo, para travar a degradação de um património único.
Sempre que arde uma mancha de carvalho, o próximo incêndio será maior e mais devastador. E não é preciso ser técnico do Instituto de Conservação da Natureza para perceber que este inverno, chuvoso, iria potenciar violentos incêndios — o coberto vegetal, agora denso e seco, assim o prometia.
Eles aí estão. E o que podia ter sido protegido está irremediavelmente perdido. É o que dói.
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