Um estudo do ISCTE revela que 20% de portugueses vivem abaixo do limiar de pobreza e que isso só não acontece a outros 20% porque as ajudas do Estado ainda os vão mantendo à tona.
Mais: 31% das famílias estão no escalão logo acima do da pobreza, à bica para se tornarem também pobres; 21% vivem no limite, sem margem para qualquer despesa inesperada; e 12% não conseguem sequer comprar os medicamentos de que precisam. E, no entanto, mesmo dizendo-se “desconfiados”, esses portugueses consideram-se “felizes”.
Um outro estudo divulgado no mesmo dia, agora do Ministério do Trabalho, talvez ajude a perceber a sempre tão cantada e portuguesíssima “alegria da pobreza”: a população com 2baixas qualificações” intelectuais e culturais representa entre nós mais de dois terços (69,1%) da população activa total, o triplo da média da UE.
Ou seja, o “desconfiado” e “feliz” bom povo português estará, em termos culturais, algures a meio caminho entre o homem natural de Rousseau e o de Hobbes. Talvez aconteça, pois, que seja infeliz, pelo menos “de vez em quando” como Alberto Caeiro; só que, se calhar, não o sabe.
Manuel António Pina
► Jornal de Notícias [30.06.2010]
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