sábado, 24 de julho de 2010

A nossa forma de pensar está a mudar, segundo Nicholas Carr

O guru das novas tecnologias, Nicholas Carr, lançou em junho um novo livro cuja conclusão é inquietante: a fisiologia e o comportamento dos nossos cérebros está a mudar devido à utilização dos novos suportes digitais, sobretudo a Internet. Intitulado “The Shalows: What Internet Is Doing to Our Brains”, o que, numa tradução literal, significa “Os Ocos: O Que a Internet Está a Fazer aos Nossos Cérebros”, o livro, que agitou a comunidade científica, alerta para as consequências, positivas e negativas, de uma sociedade que só parece fun- cionar quando está online.

E não se pense que as alterações na estrutura mental dependem exclusivamente de uma utilização intensiva do mundo digital. Não é preciso ser um dependente da Internet para passar a sofrer estas alterações. Basta ser um utilizador frequente, ou seja, qualquer um de nós. Estudos científicos citados por Nicholas Carr demonstram que a atividade cerebral humana muda dramaticamente nos utilizadores que ficam pelo menos cinco horas diárias ligados à Internet. Seja por razões de trabalho, seja devido ao lazer. Reco- nhece-se neste papel?

À primeira vista, segundo o autor, motores de busca como o Google estariam a deixar as pessoas mais espertas. Mas isso pode ser ilusão. O alerta que fica é que “mais atividade cerebral não é necessariamente melhor atividade cerebral”. Assim, a questão fundamental é que o ambiente da Internet imerge o utilizador numa forma diferente de ler, marcada por saltos, distrações, interrupções. Resultado: a leitura acaba por revelar-se superficial. E, assim, tornamo-nos talvez mais infantilizados, pelo menos no que toca à capacidade de concentração e seleção da informação, que nos chega num fluxo ininterrupto.

E, se a Internet nos garante impressionantes quantidades de informação, também acaba por modificar, literalmente, a nossa estrutura cerebral. Altera a profundidade da memória, a capacidade de focalizar a atenção num único tema. O pensamento crítico, reflexivo e a análise indutiva também ficam fragilizados. E, afirmam os investigadores, até a imaginação sai prejudicada. Tudo porque, enquanto navega, o leitor é permanentemente confrontado com interrupções.

É o mail que chega a cada cinco minutos e que não resistimos a ver, são as mensagens escritas no telemóvel que exigem resposta imediata, é a publicidade que salta para dentro do ecrã de forma inesperada e sem qualquer convite, é a atualização do Facebook para nos mantermos vivos e interessantes na rede, ou o Twitter a trazer, a cada segundo, as novidades (ir)relevantes do mundo.

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Expresso N.º 1969 |

REVISTA ÚNICA | 24/07/2010, pág.42

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