quarta-feira, 28 de julho de 2010

A importância de Matilde

Miúdos

Os livros de Matilde

26.07.2010 - 15:48 Por Rita Pimenta

As crianças foram o centro da sua obra, mesmo quando não era para elas que escrevia. Rompeu com os estereótipos impostos pelo Estado Novo e muitos escritores de literatura para a infância seguiram-na nessa ousadia. Chamaram-lhe fada-madrinha. Matilde Rosa Araújo deixou por aí uma varinha de condão. E um inédito

Escolher os livros essenciais de Matilde Rosa Araújo não é fácil. Há sempre mais um que se impõe acrescentar. A Pública pediu ajuda a duas especialistas em literatura para a infância, Fátima Ribeiro de Medeiros e Leonor Riscado, e a um escritor, António Torrado. Todos amigos de Matilde. Era fácil sê-lo.

Não é possível falar da escritora sem falar também de Maria Keil, “as suas ilustrações são a marca de água das obras de Matilde”, diz António Torrado. E tem razão. Muitos dos seus livros foram ilustrados por esta artista plástica e mesmo a obra que sairá em Novembro terá imagens criadas recentemente por Maria Keil, já com 95 anos. “Uma dupla fantástica.”

Também não se pode conhecer o trabalho de Matilde sem se nomear a sua primeira obra dita para crianças: O Livro da Tila, cantigas pequeninas, (Editorial, 1957).

A abrir, pode ler-se “Quadra sozinha: Meninos pobres, tão pobres/ São tão pobres, que ao vê-los/ Meus olhos, que são de cobre/ Têm a luz das estrelas.” Tila era o nome por que a autora era tratada na infância, diminutivo que nem sempre lhe agradou, conta Fátima Ribeiro de Medeiros, professora e investigadora de Literatura para a Infância e Juventude, do Instituto de Estudos de Literatura Tradicional da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa.

A coragem

Seguiu-se O Palhaço Verde, Portugália, 1962 (ainda está disponível). “Foi uma grande surpresa para a literatura”, considera António Torrado. “Estava-se num período em decrescendo da literatura para a infância. Já se tinha passado a fase das borboletas e passarinhos e não havia nada para substituir.”

É então que, com coragem, a autora escreve este livro: “A personagem é mais um arlequim do que um palhaço. Com ele, Matilde rompeu o estereótipo e nós fomos atrás. Mais ou menos…”

O rapaz em que Matilde se inspirou existiu mesmo, diz Fátima de Medeiros, que desenvolve pesquisa sobre esta escritora, alguma de grande profundidade: “Era um rapaz pobre que vendia moinhos de papel na praia.”

A professora realça a importância do contributo de Matilde para a literatura: “Estávamos numa fase de menorização da criança. Com o Estado Novo, não se podia ter ideias. A censura queria limitar as ideias dos escritores e conduzi-los por um determinado caminho. Mas, sobretudo na década de 1950, houve vários escritores que não seguiram a norma. Matilde foi um deles.”

Continua

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