A história do deputado brasileiro que era também apresentador de televisão, falando sobre crimes de que mostrava estar bem informado, pois, segundo a polícia estaria por trás da sua preparação, faz-me lembrar uma entrevista de Cândido Agra, Professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, onde fundou e dirige a Escola de Criminologia, ao semanário Grande Porto, publicada no passado dia 7, na qual sublinha estar a desenvolver «uma investigação em que o crime aparece à cabeça nas notícias mais vistas e só depois o sexo», observando: «Vende mais. Ao contrário do que achava. Só depois é que vem o diabo do sexo, essa maçada. O sexo está a tornar-se uma maçada o que é mau. Estou muito preocupado. Que cidadãos temos nós?»
Pois, o preocupante é esta atracção pelo crime. Não será por caso que os meios de comunicação social, inclusive as televisões, não deixam escapar nenhum caso que envolva crime. Se forem crimes passionais, tanto melhor, para atrair a atenção das pessoas.
Aqui fica um extracto da entrevista:
Acha que o crime agora é moda nos média?
É e é justamente por isso que estamos aqui. Há 30 anos quando eu comecei a trabalhar na área a Universidade tinha alguma relutância quanto aos estudos nesta área. Comecei por criar na faculdade de psicologia um centro de ciências do comportamento desviante. Tive uma grande luta para a criminologia se impor na UP. A criação da licenciatura foi muito complicada. Vários ministros resistiram incluindo este.
Porque foi assim?
A minha morada é o pensamento e chega-me. Não são movimentos ou partidos políticos e neste país tudo é decidido com base em influências e grupos de pressão. Estou fora desses interesses e por isso sofro as consequências.
O que acha dos vários comentadores criminalistas na TV? Ignoro. Não me perturbam absolutamente nada. Não sou daqueles que fica histérico com uma câmara e um microfone. Não vejo televisão nem jornais e acho que não sou inculto. Vamos no nosso caminho. Na investigação séria e rigorosa. Esta área não é de um ou de dois ou três indivíduos, é de uma comunidade de investigadores. Em Portugal ainda temos algum caminho a percorrer. Seria desejável termos uma comunidade científica criminológica. Aquilo que é especulativo e jogos de opiniões não é ciência.
A criminologia é vista com mediatismo?
O fenómeno é internacional e tem efeitos nos alunos de criminologia. Chegam com estereótipos, crenças criadas muito pelos media e pelos rumores acerca do crime e da segurança. É um caso muito sério dizer-lhes que uma coisa são as falácias criadas pelos media e pelo senso comum, outra é a investigação científica séria. As pessoas querem ver o crime as polícias atrás de ladrões e assassinos. É isso que excita. Durante muito tempo era o sexo, agora lamentavelmente é o crime. Isto é cómico. Ou então o sexo e o crime. Quando se juntam os dois isso é a grande excitação.
Existem dados científicos que apontam nesse sentido?
Sim. Estamos a desenvolver uma investigação em que o crime aparece à cabeça nas notícias mais vistas e só depois o sexo. Vende mais. Ao contrário do que achava. Só depois é que vem o diabo do sexo, essa maçada. O sexo está a tornar-se uma maçada o que é mau. Estou muito preocupado. Que cidadãos temos nós?
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