Em meados dos anos 60, Tom Lehrer, um dos maiores satiristas do século passado, introduzia assim nos concertos a sua canção sobre a fraternidade, National Brotherhood Week: “Todos concordamos que temos de nos amar uns aos outros e há gente no mundo incapaz de amar o seu semelhante e eu odeio gente dessa.”
Removida a ironia de Lehrer, o eng. Sócrates adoptou o discurso. No comício da Madeira, por exemplo, dedarou-se frontalmente contra os insultos na campanha. Momentos depois, desatou a insultar com empenho os “fariseus”, os “fracos”, os “pessimistas”, os “maledicentes” e os restantes pulhas que discordam dele. Em matéria de língua suja, o eng. Sócrates é o Capitão Haddock, sem o whisky e com um preâmbulo em que condena a má-criação.
Estratégia? Quem dera. O meu palpite é que o homem se convenceu mesmo de que tem razão ― toda a razão e acerca de tudo. Só isso explica a convicção com que trata as opiniões dos que o criticam como ofensas e as suas próprias ofensas aos que o criicam como evidências científicas. Quando inaugura uma primeira, e às vezes única, pedra, o eng. Sócrates acredita sinceramente no prodigioso significado do acto, pelo que amaldiçoa os salafrários que não se curvam perante a magnificência da pedra como os símios se curvaram ao monólito no 2001.
Em 2009, aliás, os macacos reverentes e pasmados seriam os espécimes ideais para alcançar a dimensão das benesses em que o eng. Sócrates é perito, fosse a governá-los, fosse a penteá-los, fosse a fazer-lhes o que quisesse contanto que não o fizesse connosco, indignos do seu brilho.■
SÁBADO 27 AGOSTO 2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário