Mais uma vez
A certa altura dos anos 60, passava em permanência na rádio uma canção de Tito Puente, “Esperanza”, e Alberti constatava não sem melancolia, em tempos em que o “socialismo real” exibia já desavergonhadamente o sórdido rosto, que “hasta esa puta, la esperanza,/ ya solo baila el cha cha cha”. Mais tarde ou mais cedo, todos acabamos a constatar o mesmo. Desilusão após desilusão, a esperança um dia deixa-nos (ou deixamo-la nós a ela, batendo ruidosamente com a porta) e ficam só ruínas. Não sei se a minha simpatia pelo jovem tenente-coronel Hugo Chávez que, em 1992, se levantou contra a plutocracia de Andrés Pérez e, depois, levou à presidência a esperança dos descamisados não só da Venezuela mas de toda a América Latina, nasceu da antipatia pelos seus inimigos se da desesperançada necessidade de esperança. Agora que crescentemente a “revolução bolivariana” parece assumir, com a progressiva redução das liberdades (a última, depois da liberdade de informação, é a liberdade de manifestação), aspectos de “socialismo real”, temo que, como na canção, me “ilusioné” e que, mais uma vez, “todo/ se acabó”.
Fonte: Jornal de Notícias [31.08.2009]
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