Confesso que tenho dificuldade em dar importância aos programas partidários. Fiquei traumatizado em 1995, quando tive que ler o programa de Guterres. Aquilo não era um programa, era o “Pantagruel” das soluções para a pátria. Fiquei vacinado.
Na verdade, mais importante do que os programas é a sua aplicação e transparência: a possibilidade de acompanharmos o que é decidido, porquê, por que valores e com que finalidade. Ora isso em Portugal nunca acontece.
A avaliação dos professores é exemplar. Todos os partidos dizem coisas que, na ver[d]ade, não querem dizer coisa nenhuma. O PS fala em “consolidar”, o PSD em “suspender” o sistema. O que os dois dizem é óbvio e previsível. Mas eu gostava de saber era porque é que se escolhe o modelo A e não o modelo B de avaliação, com base em que experiência, quem monitoriza a sua aplicação, com que regras e consequências. Duvido sinceramente que isso vá acontecer.
O aeroporto de Alcochete é ainda mais bizarro. O PS vai fazê-lo, o PSD vai fazê-lo “por módulos”. Ora, sempre esteve decidido que a construção seria feita por módulos. O PSD diz que só “avança depois de estudar a capacidade da Portela. Mas não se estudou já vezes sem conta a capacidade da Portela? Eu gostava de saber qual é, de facto, essa capacidade. Mas o que consigo ler, acreditem, são estudos encomendados ‘por medida’ a consultores muito bem pagos.
Reparem no caso da Saúde. O actual Governo decidiu resgatar para o Estado o Hospital Amadora-Sintra, tentando acabar com uma polémica de anos e anos. Admito que a ideia tenha sido correcta, mas nenhum português sabe se assim foi, e que ganhos o Estado ou os utentes tiveram entretanto. O PSD quer mais parcerias privadas, mas nunca vamos saber se isso tem qualquer ganho de eficiência ou de custos. Achamos que sim ou que não por puro preconceito ideológico. Nada mais.
A ideia do PSD de impor prazos na Justiça parece-me boa, mas não vejo nenhuma razão para acreditar nela. Já existem prazos para as investigações criminais. São cumpridos? Claro que não. Com justificação? Claro que sim, arranja-se sempre uma justificação.
Podia dar mais mil exemplos. No fundo nunca sabemos grande coisa do país em que estamos. Achamos umas coisas. Votamos porque achamos isto ou aquilo. E nunca ninguém nos presta contas de coisa alguma. Os partidos acham que só nos têm que dizer umas coisas quando vão a votos. Enchem páginas e páginas de palavras, de medidas e projectos. E falam connosco daqui por uns anos.
Fonte: Expresso n.º 1922 | 29 de Agosto de 2009
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