As revoluções dos homens de meia-idade
09.08.2010 — 08:32 Por Bruno Horta
Atingiram o auge das capacidades. Estão mais concentrados na vida familiar e profissional. Saem menos à noite e fazem poucas noitadas. Têm cuidado com o que comem, preocupam-se com a saúde, não querem engordar. A sexualidade é para ir praticando, não para consumir e deitar fora. Pensam muito no futuro dos filhos e no estado do país. Instalaram-se na vida mesmo que sejam inconformados. Vivem bem com a emancipação das mulheres, mas isso, para eles, ainda é um tema. Já sabem que a vida é finita, foram rasteirados algumas vezes, ganharam serenidade e têm medo da velhice. O mundo está em crise, mas eles não cedem.
Nascidos no fim dos anos 50, inícios dos 60, os portugueses que têm hoje entre 47 e 53 anos são a geração da transição — para a democracia, para a revolução dos costumes, para a Europa, para a globalização. Numa época em que, segundo dizem, a juventude e a beleza são valores sociais e mediáticos absolutos, não se sentem a mais. Ou sequer ultrapassados. O siso é uma arma.
A infância deles foi uma revolução, porque em revolução esteve o mundo nessa época. Os Beatles começaram a tocar em 1960 e publicaram o primeiro disco, Please Please Me, em 1963. Os Rolling Stones apareceram em 1962 e Amália Rodrigues editou a sua obra-prima, Busto. Fidel Castro tinha tomado o poder em Janeiro de 1959. Kennedy foi eleito em 1961 e assassinado dois anos depois.
Eusébio assinou pelo Benfica em 1960. Marilyn Monroe morreu em 1962. Portugal tinha presos políticos e censura. O direito de voto das mulheres era condicionado. Álvaro Cunhal fugiu do Forte de Peniche em 1960 e António Calvário gravou o primeiro êxito, Regresso. A União Indiana ocupou Goa, Damão e Diu em 1961 e a guerra em África começou.
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