Mostrando postagens com marcador OPINIÃO; MANUEL ANTÓNIO PINA; JORNAL DE NOTÍCIAS. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador OPINIÃO; MANUEL ANTÓNIO PINA; JORNAL DE NOTÍCIAS. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

OPINIÃO > Manuel António Pina: «Simples e curtos»

Desta vez não haverá conferências de imprensa nem mais um “animador sinal” para anunciar ao país. Um relatório do GAVE do Ministério da Educação revela que os alunos portugueses são, afinal, incapazes de estruturar um texto ou de explicar um raciocínio básico, bem como de “desempenhar tarefas tão simples como, por exemplo, interpretar um texto poético, solucionar um exercício matemático com mais de duas etapas ou enfrentar um enunciado que não seja simples e curto”.

Segundo o GAVE (que avaliou alunos do 8.º ao 12.º ano de 1 700 escolas), a coisa ainda vai quando as respostas só “requerem selecção”, como pôr cruzinhas em respostas múltiplas; o problema é quando é preciso “justificar as respostas”, construir um raciocínio ou quando as respostas exigem várias etapas de resolução.

Ainda não se extinguira o foguetório com que o Governo recebeu, há dias, o estudo do PISA colocando Portugal na média educativa europeia por virtude da queda de reprovações e subida de notas nos últimos anos, quando o balde de água fria vem do próprio Ministério: “Pais, alunos e escolas devem preocupar-se mais com o que os estudantes aprendem e menos com os resultados”.

“Pais, alunos e escolas” e talvez também Governo. As aparências estatísticas podem melhorar-se a pôr cruzinhas e a passar toda a gente. Mas não será decerto com uma geração de “simples e curtos” que o país terá alguma coisa parecido com um futuro.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

OPINIÃO > Manuel António Pina: «Mais uma vez»

Mais uma vez

A certa altura dos anos 60, passava em permanência na rádio uma canção de Tito Puente, “Esperanza”, e Alberti constatava não sem melancolia, em tempos em que o “socialismo real” exibia já desavergonhadamente o sórdido rosto, que “hasta esa puta, la esperanza,/ ya solo baila el cha cha cha”. Mais tarde ou mais cedo, todos acabamos a constatar o mesmo. Desilusão após desilusão, a esperança um dia deixa-nos (ou deixamo-la nós a ela, batendo ruidosamente com a porta) e ficam só ruínas. Não sei se a minha simpatia pelo jovem tenente-coronel Hugo Chávez que, em 1992, se levantou contra a plutocracia de Andrés Pérez e, depois, levou à presidência a esperança dos descamisados não só da Venezuela mas de toda a América Latina, nasceu da antipatia pelos seus inimigos se da desesperançada necessidade de esperança. Agora que crescentemente a “revolução bolivariana” parece assumir, com a progressiva redução das liberdades (a última, depois da liberdade de informação, é a liberdade de manifestação), aspectos de “socialismo real”, temo que, como na canção, me “ilusioné” e que, mais uma vez, “todo/ se acabó”.

Fonte: Jornal de Notícias [31.08.2009]

sábado, 22 de agosto de 2009

OPINIÃO > Manuel António Pina: «Só a horas de expediente»

Só a horas de expediente

A história conta-se em poucas linhas: uma adolescente violada foi obrigada a esperar 12 horas no Hospital de Santa Maria sem poder limpar-se, lavar os dentes, beber água ou mesmo ir à casa de banho, de modo a preservar os vestígios da violação até se arranjar um perito do INML disponível.

A razão, pois até o absurdo tem razões, é que o INML fecha às 18 horas e não tem quem recolha amostras depois dessa hora porque… o pessoal meteu férias ou está de baixa.

A notícia saltou para os jornais e, com ela, vieram os "especialistas". Para uns a coisa resolver-se-ia com mais um decreto, regulamento ou despacho a transferir o INML do Ministério da Justiça para o da Saúde; para outros, isso seria um disparate e a solução é antes uma portaria a admitir mais técnicos.

A ninguém ocorreu o óbvio, a organização pelo INML de escalas de pessoal que funcionem, mesmo tendo que abdicar de algumas poupanças em horas extraordinárias. Ou então, e à portuguesa, um "protocolo", desta vez entre o Ministério da Justiça e os violadores para as que as violações, em período estival, só sejam feitas entre as 8 e as 18 horas.

Fonte: Jornal de Notícias [21.08.2009]

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

OPINIÃO > Manuel António Pina: «O que diz Madelino»

O que diz Madelino

O desemprego aumentou no segundo trimestre deste ano 23,9% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, e o número total de desempregados bateu já a assustadora barreira dos 500 000 (sem contar com os 143 648 misteriosamente “desaparecidos” do IEFP e em paradeiro estatístico incerto). Para Francisco Madelino, presidente do mesmo IEFP (o tal dos concursos de admissão com testes sobre os discursos de Sócrates), isso são “peanuts”. Ele é o homem certo no lugar certo para, em tempos pré-eleitorais, nos dar boas e camonianas notícias: o desemprego cresce, sim, mas não cresce já como soía. Ou, explica Madelino, cresce mas ― deitem foguetes desempregados e famílias ― cresce “estavelmente”, que é como quem diz que voa alto mas voa baixinho. O papel do presidente do IEFP é o mais difícil e desamparado da comédia que é a gestão política dos números negros do desemprego; cabe-lhe vir à boca de cena e pintá-los de cor-de-rosa. Atire-lhe a primeira pedra quem, no seu lugar, que é de nomeação política, não fizesse o mesmo ou pior de modo a evitar vir a engrossar também ele as estatísticas do desemprego.

Fonte: Jornal de Notícias

terça-feira, 18 de agosto de 2009

OPINIÃO > Manuel António Pina: «Fazer batota»

Fazer batota

Não sei para que servem os chamados “mandatários”, mas alguma serventia hão-de ter ou os partidos não se dariam ao trabalho de os arranjar. Tratando-se de eleições e estando votos em causa, é provável que um “mandatário” seja alguém que supostamente renda votos.

Assim, se o partido A ou o partido B cobiçarem, por exemplo, os votos dos gagos, arranjarão um “mandatário para os gagos”, alguém que seja um modelo para os gagos, de tal maneira que, votando ele num determinado partido, todos os outros gagos façam o mesmo, assim a modos que um flautista de Hamelin dos gagos. É por isso que não vejo a lógica da escolha da tal de Carolina Patrocínio (quem?) para “mandatária para a juventude” do PS. Será aquele o modelo (em plástico que, como diz O’Neill, sai mais barato) de juventude que o PS tem para oferecer aos jovens, uma juventude com empregadas para tirar os caroços das cerejas e as grainhas das uvas e que “prefere fazer batota a perder”? Ou o PS também prefere fazer batota a perder? Disse Sócrates em Amarante que a crise ainda não acabou. A financeira não sei, mas a outra vai de vento em popa.

Fonte: Jornal de Notícias [18.08.2009]

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

OPINIÃO > MANUEL ANTÓNIO PINA: «Chefes & índios»

Chefes & índios

Não é nada que surpreenda no processo orwelliano que vem, a vários títulos, sendo a reforma da Administração Pública: soube-se ontem que, para o Governo e para a Reforma, todos os funcionários públicos são iguais, mas uns são mais iguais que outros.

Assim, os funcionários (4 500, contas por baixo) que enxameiam os ministérios por nomeação política estão, ao contrário dos que chegaram aos cargos por mérito demonstrado em concurso público, isentos de avaliação de desempenho e podem progredir na carreira e no salário pelo ominoso método tantas vezes desancado pelo actual Governo: a idade e o tempo de serviço, isto é, basta-lhes deixar passar o tempo e envelhecer atrás das secretárias para serem promovidos. Segundo a Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP), o Governo visa, desse modo, “premiar” as responsabilidades de chefia. Daí se concluirá que, sendo a não avaliação um “prémio” aos chefes nomeados politicamente, a avaliação é o “castigo” para os índios sem cartão partidário. E que, excepção atrás de excepção, a famosa reforma da Administração Pública se tornou uma coboiada.

Fonte: Jornal de Notícias [06.08.2009]


terça-feira, 4 de agosto de 2009

OPINIÃO > Manuel António Pina: «A 'smsização' da Língua»

Anda por aí uma excitada campanha (principalmente na blogosfera, mas também já a vi num jornal) contra o ponto de exclamação, do qual se diz o que Mafoma não disse do toucinho. Depois do quase total desaparecimento da prosa por assim dizer jornalística (e “jornalística” é o pior que se pode dizer de uma prosa) do ponto e vírgula, das perifrásticas, dos tempos compostos e, de um modo geral, de tudo o que vá além do pretérito perfeito e do modo indicativo (sobrevivem ainda, penosamente, uma ou outra incursão no condicional ou no futuro), parece que a “smsização” da Língua chegou aos sinais de pontuação, não tarda substituídos todos por animações e “emoticons”. O que vinga é o modelo “jornalístico” dos períodos (para não dizer igualmente das ideias) telegráficos e facilmente digestíveis, para o que bastam os pontos finais e uma ou outra desamparada vírgula. E temamos também por elas, pelas vírgulas, porque, se no caso do pobre ponto de exclamação o motivo é o seu mau uso ou o seu abuso, basta ver os maus tratos que as vírgulas sofrem hoje em jornais e blogues para não lhes augurar luzido futuro.

Fonte: Jornal de Notícias [03.08.2009]

OPINIÃO > Manuel António Pina: «Uma valsa a dois tempos»

Deu trabalho mas encontrei na Net um curioso documento intitulado “Bases Programáticas/Partido Socialista/ Legislativas 2005”. Nele o PS faz contas ao país depois do desastre governativo do PSD/CDS.

Agora (se não, veremos) será o PSD a comparar o país de 2005 com o de 2009. “Hoje, os portugueses”, dizia o PS em 2005, vivem numa economia “parada há três anos”; e enumerava: taxa de desemprego em 6,8% (9,3% em 2009, dados do Eurostat); rendimento por habitante em 67,7% da média da UE-15 (75% da UE-27 em 2009, o segundo pior da Zona Euro); dívida pública em 62% do PIB (hoje 70,7%, a crer na OCDE); défice em 5,2% do PIB (mais de 6% em 2009, dados também da OCDE); endividamento das famílias em 118% do rendimento disponível (135% em 2008, segundo o Banco de Portugal); e IVA em 19% (20% em 2009). Se o PSD vier a ser outra vez Governo, o PS fará novo balanço desastroso em 2013; e em 2018 o PSD; e em 2023 o PS, e em 2028 o PSD, e por aí fora até ao infinito, cada vez com números piores. É uma valsa a dois tempos que dura há décadas com os mesmos dois dançarinos. E com os mesmos de sempre a pagar a conta.

Fonte: Jornal de Notícias

quinta-feira, 30 de julho de 2009

OPINIÃO > Manuel António Pina: «Promessas em saldo»

O preço das promessas atingiu nestes dias mínimos, como costuma dizer-se, históricos. Já ninguém lhes pega e as prateleiras dos programas partidários estão cheias de monos. A oferta é excessiva e não parece, pelos resultados das europeias, que a procura de promessas pelos portugueses estique mais depois de todas as não cumpridas da última legislatura.

Agora são 200-euros-200 a cada bebé que nasça, que o Governo, se voltar a ser Governo, porá no banco para serem levantados pelo feliz contemplado quando fizer 18 anos e puder votar PS. Aos bebés uma tal promessa não dirá muito, mas, a crer nas taxas brutas de natalidade divulgadas pelo INE, significará para a banca (a verdadeira feliz contemplada da coisa) mais 20 milhões do Orçamento de Estado todos os anos. Isto se os portugueses, excitados pelos 200 euros (o dinheiro tem reconhecidas virtudes eróticas) não desatarem a fazer filhos em vez de ficarem a ver o ‘Prós e Contras’ e a telenovela. Não se percebe bem é porque é que o PS, ao mesmo tempo que paga aos portugueses para fazerem filhos, se propõe distribuir gratuitamente preservativos.

Manuel António Pina

Fonte: Jornal de Notícias

quarta-feira, 22 de julho de 2009

OPINIÃO > Manuel António Pina. «Um país em forma de assim»

Há quem esteja convencido de que Portugal não existe, que o que existe de há uns tempos para cá é uma coisa, como O'Neill diria, em forma de assim mais eólicas, centrais solares, Plano Tecnológico, Novas Oportunidades e uma falta de pudor maior que o défice público. O Governo do mesmo partido que ainda há pouco fazia prova de vida socialista anunciando para a próxima legislatura, se Deus quiser, o casamento homossexual contra o qual uns meses antes votara, proíbe agora os homossexuais de… darem sangue. A crer no Governo, estaria "cientificamente provado" que os homossexuais homens têm comportamentos de risco, coisa que os heterossexuais e as lésbicas também deve estar cientificamente provado não têm. Bem podem o bom senso, a Coordenação Nacional para a Infecção VIH/sida e a Amnistia Internacional, falar de disparate e de discriminação e os números provar que 57,6% dos novos casos de SIDA em Portugal são de heterossexuais e só 16,8% de homossexuais. Além de nas energias renováveis, o país, ou lá o que é, faz questão de estar à frente do seu tempo e do Mundo também nas discriminações renováveis.

Fonte: Jornal de Notícias [22.07.2009]

quarta-feira, 15 de julho de 2009

OPINIÃO > Manuel António Pina: «Orgulho, diz ela»


Orgulho, diz ela

A Língua não é apenas um meio de comunicação, é também um instrumento de conhecimento e de pensamento. A Língua fala em nós tanto quanto nós a falamos, constitui o elemento fundamental da nossa identidade enquanto povo (e, sobretudo, enquanto “pátria”, pluralidade de valores identitários que herdámos dos nossos pais e que os nossos filhos herdarão de nós). São, por isso, dramáticas as notícias que dão conta de que, nos recentes exames nacionais do 9.º ano, o número de negativas a Língua Portuguesa aumentou 70%, apesar de o actual ME ter levado o nível de exigência dos exames ao grau zero. A falta de exigência a que se chegou é tal que, para se opor à opinião dos peritos para quem os exames do 12.º ano de Matemática foram este ano de novo “escandalosamente fáceis”, o presidente da APM argumenta que o exame “tinha algumas coisas que exigiam alguma interpretação de (…) linguagem escrita”. Ou seja, o exame não seria assim tão fácil porque… exigia “alguma” interpretação de linguagem escrita. Isto a alunos do último ano do Secundário! Diz a ministra que o país devia “encher-se de orgulho” com isto…