A análise dos osso do pulso do ser humano e dos seus parentes mais próximos revela que o antepassado do homem não andou apoiado nos quatro membros como os actuais gorilas, mas deslocava-se nas árvores como os jovens chimpanzés ou bonobos. Desde o tempo do pai da teoria da evolução, Charles Darwin, que cientistas discutem ambas as hipóteses
Afinal, os nossos antepassados não caminharam apoiados nos quatro membros, como os actuais gorilas, antes de se tornarem bípedes. Um novo estudo, publicado na edição desta semana da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, revela que desceram das árvores para começar a andar nas duas pernas.
“As características da mão e do pulso encontradas nos fósseis humanos que têm sido tradicionalmente tratadas como indicadores do comportamento de andar sobre os nós dos dedos dos quatro membros são, na realidade, provas de que andavam em cima das árvores”, escreveram os cientistas.
A conclusão é tirada da análise dos ossos dos pulsos de 104 chimpanzés, 91 gorilas e 43 bonobos. Os cientistas descobriram que as características dos ossos humanos que sempre foram associadas à forma de “caminhar” dos gorilas - com os braços bem direitos, como um tronco - afinal só estavam presentes em 6% destes animais analisados. Mas estavam em 96% dos chimpanzés e em 76% dos bonobos.
“Quando nos juntámos para trabalhar neste estudo, estas diferenças saltaram-nos à vista”, explicou Daniel Schmitt, professor associado de antropologia na Universidade de Duke, em Durham (Carolina do Norte, EUA), que trabalhou com a antropóloga Tracy Kivell, da Universidade de Toronto, no Canadá. “Então, sentámo-nos e perguntámos: ‘Quais são as diferenças entre ambos?’ A resposta é que os chimpanzés e os bonobos passam muito tempo nas árvores. E os gorilas não”, acrescentou. Logo, o antepassado do homem também o terá feito. “Este modelo deve levar toda a gente a reavaliar o que disse antes”, afirmou.
A forma como o ser humano começou a andar em dois membros tem dividido os cientistas já desde o tempo do pai da teoria da evolução, Charles Darwin. Existem dois modelos de pensamento. Um estabelece que os nossos antepassados caminhavam sobre os nós dos dedos dos quatro membros, como os gorilas (os nossos “parentes” mais próximos) antes de libertarem os braços para o manuseamento de ferramentas. Outro diz que o bipedismo surgiu no momento em que os nossos antepassados desceram das árvores.
É esta última teoria que este estudo parece provar. Os cientistas sugerem que houve uma evolução independente nos estilos de caminhar nas duas linhagens de primatas africanos. Os animais que passam mais tempo nas árvores precisam de maior estabilidade para se manterem nos ramos, daí terem um pulso que permite maior liberdade de movimentos. Para os gorilas, ter um pulso mais rígido é mais apropriado para as deslocações em terra.
De facto, “pelo que conhecemos sobre o caminhar sobre os nós dos dedos entre as populações selvagens, os gorilas e os chimpanzés adultos caminham dessa forma 85% do tempo em que estão a mover-se”, indicou Kivell, no comunicado oficial. “Mas os chimpanzés jovens e os bonobos passam mais tempo nas árvores que os gorilas.”
Os dois cientistas lembram contudo que até ao momento não se encontraram fósseis que mostrem o momento da transição para o bipedismo, que deverá ter acontecido há cerca de sete milhões de anos.
Susana Salvador
Fonte: Diário de Notícias [12.08.2009]
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