Reprovação zero?
por JOSÉ MANUEL CANAVARRO *
A ministra da Educação anunciou que durante o seu mandato pondera acabar com o insucesso escolar. E que o final do insucesso escolar poderá ser decretado com a impossibilidade de o professor reprovar os seus alunos.
A definição de metas de aprendizagem, do que os alunos devem aprender por disciplina e por ciclo, (re)anunciada pela ministra, é relevante e necessária. Este assunto não deveria ter sido “misturado” com a possibilidade de não se reprovar.
Embora existam países que alcançam bons resultados globais em educação sem terem uma prática de reprovação, o anúncio da ministra da Educação deixa muitas dúvidas e motiva algumas perguntas.
2. O que acontecerá, neste novo contexto, aos exames nacionais? Continuarão a existir? Com que valor funcional concreto? É tecnicamente possível a manutenção de exames num quadro de não reprovação, bem sabemos, mas como se pretenderá fazê-lo?
3. Quando se acentua socialmente a perda de autoridade do professor, será sensato retirar-lhe a possibilidade de reprovar o aluno? Não é apenas na possibilidade de o primeiro reprovar o segundo em que assenta a autoridade mas, convenhamos, que, em muitos casos, é factor importante.
4. Existem apoios nas escolas. É verdade. Mas são, em regra, insuficientes, pouco baseados na evidência, pouco sistematizados e muito voluntaristas. Mostra-nos a investigação sobre o tema do insucesso escolar em Portugal que há uma percentagem recuperável com recurso a uma metodologia de apoio moderadamente intensiva, mas há um outro tipo de insucesso escolar, persistente, que não é nem será fácil de resolver.
O sucesso escolar promove-se combinando exigência com apoio, este tão personalizado quanto possível, confiando no trabalho dos professores e conferindo a estes e às escolas boas condições de trabalho e usufruto de autonomia. Importará manter avaliações nacionais periódicas, mas orga- nizadas por uma entidade independente, e dotar o sistema de educação de métodos para capacitar os pais para a sua função na escola e fora dela.
Seguindo este trilho, reduzir-se-á o insucesso. E o que se conseguir será mais demorado, mas mais real do que o zero administrativo.
* Professor universitário
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