sexta-feira, 13 de agosto de 2010

«Educar em série»

Tal como nas clássicas fábricas de automóveis: a Escola de hoje assemelha-se e configura-se (obrigatoriamente) para uma "Educação em série", ou seja, o que se pretende mesmo é que no resultado final se obtenha cidadãos luzidios, envernizados e prontos a ser utilizados e admirados por todos, isto é pelos outros cidadãos e mesmo pelos outros países. Para isso, desde logo a partir da mais tenra idade, "retiram-se" as crianças aos pais e às mães, aos avós, aos primos, aos tios, às aldeias e às comunidades e rapidamente são introduzidas nas amas, nas creches, nas instituições. Invoca-se tudo: o emprego dos pais, a tipicidade das famílias modernas e até o mais fácil, o mais moderno, o mais barato, o mais seguro, ou mesmo o mais usual. E é nesta modernidade, que os bebés são logo pela manhã vestidos à pressa e arremessados todos os dias e às mesmas horas para esta primeira fase da “linha de montagem em série”, num vaivém constante, desumanizado mas tecnicamente aceite como inteligentemente concebido e que ninguém ousa sequer questionar!

Ao chegar os 3 anos, vem a Educação de Infância, crianças são agora transportadas para o Jardim da Freguesia. Assim, logo de manhã, bem cedinho, são acordadas, levantadas, vestidas à pressa e (mais uma vez) arremessadas para o Jardim. Longe vai o tempo do almoço em casa, ou junto dos avós, por lá permanecem todo o santo dia, por lá brincam, cantam, jogam, comem, bebem, choram, gritam, correm, saltam, sofrem, batem, arrepelam, sorriem... E é assim que as crianças, fruto desta moderna forma de vida, passam os dias, as semanas, os meses e anos, “retiradas” aos pais e aos avós, livres dos primos, dos tios, da comunidade, das galinhas, das cabras, das ovelhas, das vacas, dos cães, dos prados, dos campos, das vinhas, dos montes, das matas, das pessoas, dos rios, dos charcos, das rãs, dos grilos, dos mais velhos, dos mais novos, dos adultos, dos agricultores, dos sapateiros, dos resineiros, dos lenhadores, dos operários, dos camponeses... Simplesmente prosseguem o seu caminho desenvolvimental nesta “segunda linha de montagem em série”, entrando todas ao mesmo tempo na escola-fábrica-empresa, cantando todas as mesmas canções, dando e recebendo os mesmos beijos, ouvindo as mesmas músicas, abraçando as mesmas pessoas, ouvindo as mesmas histórias, conhecendo os mesmos personagens, vestindo a mesma moda, a mesma mochila, o mesmo leite, o mesmo Natal, o mesmo S. Valentim, o mesmo Carnaval, o mesmo currículo...

Continua aqui.

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