Ensino
Chumbos potenciam abandono escolar
Catarina Madeira
02/08/10 00:05
Isabel Alçada lançou debate sobre eliminação de chumbos, que Conselho de Escolas também propôs.
À primeira reprovação de um aluno, seguem-se muitas vezes novas retenções ou até o abandono escolar. A constatação é de Álvaro dos Santos, presidente cessante do Conselho de Escolas, e é um dos argumentos que levou este órgão consultivo do Ministério da Educação a defender, antes mesmo da ministra lançar o debate, que “em regra não deve haver retenção de alunos” no ensino primário nem secundário geral. Com excepção para os 6.º e 8.º anos, mas apenas quando “se verifique uma atraso significativo nos domínios considerados essenciais” e sempre com a “concordância do encarregado de educação”.
A proposta do Conselho de Escolas para a revisão curricular deverá ser entregue em breve à ministra da Educação, mas antes disso Isabel Alçada decidiu lançar o debate que promete dividir todos os envolvidos, com sindicatos, partidos políticos e associações de país a mostrarem muitas reservas quanto à eliminação das reprovações.
As retenções “não têm contribuído para a qualidade do sistema” educativo defendeu, em entrevista ao Expresso, Isabel Alçada, dando como exemplo os países nórdicos que implementaram esta política (ver caixa) e salientando que o objectivo será sempre o de “melhorar o desempenho dos alunos” e encontrar “novas formas de combater o insucesso escolar”.
No mesmo sentido, Álvaro dos Santos explicou ao Diário Económico que, através de um estudo realizado no concelho de Vila Nova de Gaia sobre o abandono precoce no ensino secundário, concluiu que “na origem do abandono estava sempre uma desvinculação cognitiva, que muitas vezes acontecia numa reprovação. E depois da primeira seguiam-se outras”.
Apesar de acreditar que com as reprovações “são maiores as perdas do que os ganhos”, o presidente do Conselho de Escolas — que será substituído por uma nova direcção já em Setembro — reconhece que é preciso uma escola mais flexível para “desenvolver os conhecimentos e as capacidade” de cada aluno. Também Albino Almeida, presidente da Confederação das Associações de Pais, defende que a aplicação deste modelo “implica um outro conceito de escola, uma escola que dá condições ao professores e aos alunos”. Já a Fenprof alerta para a necessidade de “mais apoios para os alunos e programas adaptados”.
Maria do Rosário Gama, directora da Escola Secundária Infanta D. Maria (Coimbra) e membro da futura direcção do Conselho de Escolas discorda da proposta, distinguindo os vários casos de reprovação: “Há os alunos que têm dificuldades e que em vez de reprovarem devem ser acompanhados. E há os que não se esforçam e que não devem ser premiados”.
Modelo nórdico é o exemplo de Alçada
Na Finlândia, Suécia, Noruega e Dinamarca, as reprovações ficam-se pelos 1% e, quando acontecem resultam normalmente de ausências prolongadas, por exemplo, devido a doença. A ministra da Educação quer comparar os resultados do actual modelo português com os resultados obtidos por outros países que nunca tiveram uma linha orientada para a reprovação e elogiou o exemplo nórdico, que quer debater com pais e professores. Na Finlândia — onde em vez de chumbar, os alunos com mais dificuldade têm apoio extra — só 1% dos alunos de 15 anos não têm competências básicas de leitura, o valor mais baixo da OCDE. Já em França — país da OCDE com mais reprovações, onde 25% dos alunos de 15 anos já chumbaram pelo menos uma vez — metade dos retidos no 1.º ciclo abandona a escola sem nenhuma qualificação ou só com o básico concluído.
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