Mas afinal por que razão o sistema educativo finlandês é considerado um modelo a seguir? Terá aparecido de repente? Ou terá sido fruto de um trabalho empenhado dos vários intervenientes? Paul Robert procura dar resposta a estas questões, de uma forma fundamentada.
Um sistema em constante evolução
Como é que os finlandeses chegaram a este nível? O seu sistema terá resultado de uma evolução gradual ou de uma reforma global? Uma coisa é certa, a educação do passado era diferente da actual. Os professores mais antigos recordam-se de um clima global consideravelmente menos satisfatório: «Há trinta anos era muito mais duro, Os alunos eram bastante mais indisciplinados e menos motivados. Nós mudámos gradualmente por etapas. Agora temos a tarefa de responsabilizar os nossos alunos». Esta é a visão retrospectiva de Sirkky Pyy, professora de inglês numa escola de 6.º/9.º anos de Joensuu. É notável que os finlandeses tenham conseguido uma evolução do seu sistema, de modo progressivo e coerente, sem sobressaltos e sem recuos, percorrendo um caminho coerente e concertado, independentemente das mudanças da maioria política governativa.
A primeira etapa começou em meados dos anos setenta do século passado. A Finlândia tinha um sistema selectivo, dividido desde o fim do primeiro ciclo de escolaridade em três percursos (clássico, tecnológico e pré-profissional), semelhante ao que existia em França nesses anos. A decisão de unificar os percursos e de construir uma via única de educação fundamental obrigatória entre os sete e os 16 anos para todos os alunos foi tomada na mesma altura que em França se criou o ensino básico unificado, mas de modo muito mais radical: entretanto nós, franceses, tentamos ainda hoje sair de um modelo de «Iiceuzinho», com o estabelecimento de uma base comum. A Finlândia construiu desde os anos setenta do século XX uma escola em que prevalece a continuidade entre ciclos, num esquema de currículo único. É nessa década que a Finlândia inicia uma descentralização, que atribui aos municípios poderes alargados em termos de educação. Os programas são, no entanto, da responsabilidade do Estado. Em 1985, os grupos (turmas) de nível são suprimidos, passando-se a privilegiar a heterogeneidade global. A oportunidade de estudar após os ciclos de educação básica é garantida a todos os alunos. Uma segunda etapa no processo de descentralização confere aos municípios a possibilidade de definir orientações locais que visam completar o programa nacional. Dez anos depois, a autonomia dos municípios foi acrescida, tal como a dos próprios estabelecimentos de ensino: a partir de então as autoridades municipais passavam a ter toda a legitimidade para distribuir os fundos monetários que recebem do Estado, que continua a subsidiar cerca de 57% da Educação. Os professores dependem directamente dos municípios e dos estabelecimentos de ensino, quer a nível de recrutamento, quer a nível salarial.
Em
Paul Robert, A Educação na Finlândia — Os segredos de um sucesso, Edições Afrontamento, Porto, 2010, pp. 31-32
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