O medo é o pior dos hóspedes. Se o albergamos, ele depressa se alapa e toma conta do nosso cérebro. Quando o medo nos bate à porta, só nos resta repeli-lo, persegui-lo, tiranizá-lo.
Já o disse no Dardomeu e volto a dizê-lo aqui: as ditaduras do futuro — se as houver — serão alicerçadas, não na força, não na repressão exógena, mas no medo que as pessoas albergam, lentamente, no seu peito. Essa perspectiva antecipada das dores e das perdas vindouras inibe a vontade, inibe o carácter, os naturais impulsos de liberdade do ser humano. Desse modo, as ditaduras do futuro serão mais duradouras, perpetuar-se-ão, pois não haverá golpes de estado capazes de as expulsar dos cérebros amedrontados.
Quando os animais selvagens lêem o medo nos olhos e no cheiro daqueles que os precedem na escala alimentar, caem sobre eles sem piedade. Semelhante atitude, tomam os seres humanos que, obedecendo a idênticos impulsos de sobrevivência, se tornam predadores de outros seres humanos que os precedem na escala hierárquica, seja política, seja social, seja económica.
Neste perigoso tempo de crise, repelir o medo não basta. Devemos também repelir os mensageiros que o trazem constantemente até nós. É a melhor forma de o mantermos longe das nossas muralhas.
Fonte: Luís Costa
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