O bom ensino — qualquer professor minimamente experiente o sabe — vive da optimização das rotinas, de uma prática burilada pelo dia-a-dia, do tempo e da paz de espírito necessários à concepção das actividades lectivas e à reflexão sobre o trabalho realizado e sobre cada um dos nossos alunos. No entanto, com ou sem plano consciente para desviar os professores da sua missão pedagógica, o Ministério da Educação, nos últimos anos, tudo tem feito nesse sentido, retirando-nos a medula da qualidade que, afinal, tanto apregoa.
No comboio expresso da autonomia, foi chegando às escolas um autêntico séquito de documentos que, bem analisados, em termos de custo/benefício, resultam num prejuízo brutal, a todos os níveis. Afinal, que autonomia têm as escolas? Tudo vem de lá de cima, seja do Ministério da Educação, seja das direcções regionais: eles decidem quem encerra portas, quem abre portas, quem se agrupa, quem não se agrupa, cilindrando equipas directivas de pleno direito e projectos educativos sufragados; eles impõem avaliações, classificações, formações, creditações; eles impõem um currículo de tamanho único e do tipo pronto-a-vestir; eles impõem-nos horas disto e daquilo… Eles impõem-nos tudo o que é, de facto, relevante. Sobra para nós apenas o tal séquito lúdico que não nos deixa pensar. Sim, que não nos deixa pensar.
Neste contexto de tanta autonomia, nós seríamos capazes de viver sem regulamento interno? Conseguiríamos ensinar e educar os nossos alunos sem um projecto educativo? Seríamos capazes de trabalhar a sério sem um projecto curricular de ano ou de turma? Teríamos alguma esperança de recuperar os alunos sem um plano de recuperação ou de acompanhamento? Saberíamos movimentar-nos na escola sem o grande semáforo que é esta avaliação docente? Seríamos pessoas autênticas sem as dezenas, as centenas de reuniões que este séquito pressupõe? Seríamos capazes de fazer o desmame deste lufa-lufa viciante? Saberíamos viver sem “esta coisa”? Claro que não!
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