quarta-feira, 10 de junho de 2009

Os riscos do estabelecimento de uma dinâmica contrária ao PS e ao seu Governo, segundo Mário Soares

Os resultados das eleições europeias foram particularmente decepcionantes em muitos países da União Europeia. Talvez com a excepção dos países escandinavos (Suécia e Dinamarca) e da Grécia. O desencanto crescente do eleitorado europeu em relação aos seus dirigentes, que se manifestou numa taxa de abstenção média de mais de 60%, exprime uma dúvida enraizada: por que razão votar nestas eleições, em que a vontade popular conta tão pouco?

Perante a crise generalizada que afecta todos os Estados da União, embora de uma forma desigual, pareceu aos eleitores eurocépticos natural que o debate político se centrasse, em cada país, nas questões internas nacionais, e que o projecto comunitário europeu ― e o futuro da Europa ― como entidade global ― surgissem como secundários e distantes. Por isso, a lúcida jornalista portuguesa Teresa de Sousa intitulou a sua crónica de ontem com uma frase que constituiu uma síntese feliz do que se passou: “A direita ganha mas a Europa perde.” Foi o que aconteceu nas eleições do domingo passado, como o futuro demonstrará. Digo-o como europeísta e em consciência, com o respeito que me merecem os ganhadores portugueses do PSD e do CDS/PP e, no outro extremo, do Bloco de Esquerda.

As eleições europeias são efectivamente diferentes das legislativas e das autárquicas que se lhe seguirão, este ano, em Portugal. Mas criaram condições para que se possa vir a estabelecer, se não houver cuidado, uma dinâmica contrária ao PS e ao seu Governo. Daí que obriguem os eleitores de esquerda ― todos ― a reflectir quanto à estratégia que lhes convém adoptar para não avolumarem a vitória da direita nos próximos actos eleitorais. Em tempo de crise tão grave, como aquele que vivemos, seria perigoso que isso acontecesse. Lembremo-nos dos anos 30 do século passado e dos ensinamentos que nos deixaram. Por isso ouvi, com gosto, na TV5 (francesa), Cohn-Bendit, um dos vencedores (relativos) da noite eleitoral de domingo, em França, fazer um apelo à união de esquerda. Porque, com efeito, a esquerda dita radical cresce, quando o PSE (os partidos do socialismo democrático) perdem em toda a Europa, com pouca excepções. Mas para que lhes serve essa vitória ― dir-se-ia à Pirro ―, se quem ganha, efectivamente, é a direita, onde há, infelizmente, tantos núcleos eurocépticos, xenófobos e neocons?...

Fonte: Diário de Notícias

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