Sócrates é muito hábil, muito esperto no sentido em que o termo se demarca de inteligente. “Polymekanos” como Ulisses, salve-se a gigantesca distância entre o grego e o português. Duvido que seja tão intuitivo como se diz que ele é, o “animal político”, porque há ali muita coisa de construído por assessores, por agência, depois materializado no bom repetidor e actor que sem dúvida é. É mais zangado e agressivo contra as contrariedades do que firme, mas uma coisa passa por outra com facilidade. Precisa dessa encenação de autoridade para ser temido e não hesita em usar os instrumentos da autoridade e da vingança para ser temido.
Ora, quase tudo isto soçobrou, menos os instrumentos, que ainda lá estão em S. Bento a ser usados. Ele é o mesmo, o mundo não. Este é um risco que Sócrates corria desde sempre, porque quando se vive numa redoma de imagem profissional (muito nítida nos últimos dias de campanha das europeias em que repetia sempre a mesma “mensagem”/ massagem, preparada para ele), corre-se o risco de, uma vez partida a redoma, o ambiente exterior se tornar muito corrosivo.
E, uma vez na mó de baixo, está-se muito, muito, na mó de baixo. Até nisso muita gente é situacionista, a expressão que tenho usado para descrever a conformidade preguiçosa ou activa com o poder instalado. Quando alguém está na mó de baixo há sempre alguém que nunca mexeu uma palha que vai lá bater, atirar a sua pedra. Somos bons no louvaminhar e no bater nos fracos.
Este é o labirinto em que Sócrates pode estar metido. Ele vai dar luta, com aquela determinação que tem e que o faz ultrapassar dúvidas e escrúpulos. Mas se repete a mesma receita de ontem, o que resultava no passado hoje vira-se contra ele. E a encenação de humildade e outras teatrices não resultam pela desadequação do actor. Na mesma peça não se pode ser um bom Capuchinho quando se é reconhecido por todos como um bom Lobo Mau. Este é o labirinto de Sócrates…
José Pacheco Pereira
Sábado 18 JUNHO 2009
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