skip to main |
skip to sidebar
Eis que chega o tempo das compras para o início do novo ano lectivo. Ninguém escapa a isso! Vai ser preciso correr os supermercados à procura da pasta ou da mochila, do porta-lápis, dos cadernos, dos dossiês, dos lápis e compassos de todos os tipos. Também vai ser necessário comprar um casaco novo e as sapatilhas de desporto. Talvez também comprar uma bata nova que entretanto envelheceu. É claro que você resiste a isso. O novo ano lectivo é um momento difícil para as finanças familiares. Nem pensar em gastar de qualquer maneira! Evitemos o mais pequeno desperdício!
Mas aí tem de lidar com um adversário de respeito: o pouco vestuário que eu pensava poder utilizar novamente já não está na moda, evidentemente! É preciso umas sapatilhas novas, da marca que se impõe, a marca que todos os colegas vão comprar, aquela que mostra claramente que se pertence ao grupo, que se compreende os códigos e se segue as últimas imposições dos folhetins televisivos e dos cantores na moda naquele verão. E não falemos das coisas das aulas: nem pensar em comprar aqueles produtos genéricos que os comerciantes propõem a preços interessantes: seria ridículo! “Estás a ver-me tirar da minha mochila uma agenda ou um cadernos nos quais esteja escrito preço económico? Passava logo por um imbecil!”
Vai resistindo como pode. Mas não imagina a reacção: eis que ela chora, que ele se irrita, eles que amuam e gritam até à humilhação. Começa a parte do braço-de-ferro: será dura.
É que talvez ignore a pressão que existe nas salas de aula, nas escolas, nos bairros. Pressão terrível para a conformidade. Se não tiver as marcas certas, está ameaçado de exclusão. Ridicularizam-no. Normalmente por segundos sentidos. Ou então segredando e rindo à socapa quando passa. Por vezes, até, tratando de “menina do papá e da mamã”. Tem-se então a sensação de se ser o alvo de todos os olhares. Sentimo-nos mal. Sentimo-nos feios. Maldizemos os pais que nos colocaram nesta posição.
Será, por conseguinte, necessário ceder à ditadura da moda? Será necessário gastar somas astronómicas simplesmente para que o seu filho ou a sua filha não se sintam perseguidos por aqueles e por aquelas com quem se vai acotovelar no início do ano lectivo? Passado o momento de indignação, certamente transigirá… porque também não se pode correr riscos demasiados grandes com os nossos filhos. Mas também resistirá: para não aprovar o despotismo das marcas e dos pequenos chefes dos bandos que as usam para tomarem o poder. E, sobretudo, porque tem de ensinar ao seu filho o direito à resistência e o direito à diferença. O direito de não ceder, em qualquer tempo e em qualquer lugar, à pressão da conformidade. Mas, então, é preciso que, nessa aprendizagem, seja resolutamente um seu aliado e que a seu lado testemunhe quotidianamente que se pode, que se deve, contra todas as intimidações, ousar sermos nós próprios.
Philippe Meirieu, O Mundo não é um brinquedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário