Vem aí a sublimação da política enquanto espectáculo de sedução das massas. Mais do que as eleições para o Governo Regional dos Açores, agendadas para o dia 19 do próximo mês, perfilam-se, também, no horizonte do ano que vem, três processos eleitorais de magna importância - para o Parlamento Europeu, em Junho, para as autarquias, possivelmente em Setembro, e para a Assembleia da República no mês seguinte.
Eleições cuja campanha já começou, com José Sócrates, na qualidade de líder do PS, a iniciar as hostilidades próprias àquelas disputas no último fim-de-semana, em Guimarães. Mais do que um comício, tratou-se de "one man show", com Sócrates a sugerir o improviso (não obstante o teleponto estrategicamente dissimulado), passeando-se solitário num palco em que os circunstantes foram assumidos como adereços do cenário. Porque o discurso do político Sócrates não tinha por destinatários primordiais as pessoas presentes, putativos acólitos já rendidos às qualidades do líder e figurantes gratuitos do espectáculo, mas antes o maior mecanismo de projecção de mensagens da actualidade: a televisão. Houve vários observadores que, analisando a cenografia e o "décor", logo compararam o expediente ao modelo norte-americano, designadamente ao candidato presidencial democrata Barack Obama. E anunciaram-no como o paradigma das campanhas eleitorais que hão-de vir. Mas, se este for o rumo, que transforma a política em imagem, que restará da substância? Mais: se as eleições presidenciais são as únicas uninominais em Portugal, a que se deve esta tendência para personalização das candidaturas, mesmo que para órgãos colegiais, como o Parlamento? Neste caso, que papel restará ao partidos? E, por fim, se o modelo dominante é o espectáculo e a imagética sedutora, em que o "design" (parecer) supera o "sein" (ser), como é que se explica que a líder do PSD, o maior partido da Oposição, Manuela Ferreira Leite, opte pelo silêncio e pela discrição?
A crescente aposta na projecção da imagem, mais do que do discurso, da parte dos concorrentes políticos tem reflexos, de resto, na inflação acelerada dos custos das campanhas, por exigirem cada vez maior mobilização de meios capazes de suscitar o cuidado das televisões. (...)
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