terça-feira, 16 de setembro de 2008

«O Governo foi à escola»

Uma crónica de Fernando Sobral, no Jornal de Negócios.
Nunca um Governo manifestou uma paixão tão grande pela escola. Há ainda dúvidas se é semelhante à de Romeu por Julieta, ou se é uma versão da história em que um príncipe foi transformado em sapo. E o Governo, qual princesa, ao beijar o sapo, não o transformou num príncipe, mas sim num asno.

O Executivo, fiel à sua paixão, enviou uma missão diplomática de ministros e secretários de Estado à escola para dar os diplomas aos estudantes que terminaram o ensino secundário. Uma boa ideia, concordemos, se ela se cingisse a premiar os estudantes e o prazer de aprender. O problema é que o Governo não foi à escola aprender. Foi ensinar. Foi ensinar a fazer política partidária. Repare-se na idade dos alunos que receberam os diplomas. 17, 18 anos? Quantos deles votarão para o ano? Quantos foram os felizes contemplados com um diploma dado pessoalmente por um membro do Governo? E quantos tiveram direito a uma bela nota de 500 euros? 50 mil. Poucos, dirão alguns. Mas é nestes nichos de mercado eleitoral que se garantem as vitórias eleitorais. E deixa, além disso, uma perversa imagem: o Governo é bom, os professores são maus. O Governo gratifica, os professores complicam. Enquanto o Governo foi à escola, a oposição cumpriu a sua obrigação de estar, para além de silenciosa, distraída. Enquanto isso, Sócrates prepara, com um bom aparato mediático, a sua reeleição. E nisso, reconheçamos, é mais inteligente do que toda a oposição junta. Que ainda anda a tentar tirar o primeiro ciclo.

Fernando Sobral

fsobral@mediafin.pt

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