Uma questão de decoro
Em tempos de austeridade redobrada, quando o Governo divulga tabelas de cortes salariais na função pública, para fazer face ao défice do Estado, qualquer notícia de que o mesmo Estado gasta quantias substantivas de dinheiro em questões menores é, no mínimo, indecorosa aos olhos dos cidadãos. É-o, sobretudo, para os mesmos funcionários públicos que têm o ordenado sob ameaça de corte.
Entre estas notícias contam-se algumas que, noutro tempo, seriam dadas como irrelevantes. Jantares de direcções-gerais comemorando o seu enésimo aniversário, prendas e condecorações, facturas de viagens ao estrangeiro em restaurantes caros, tudo é normalmente apresentado como hábito de um Estado que tem um peso considerável. É errado que assim seja, mesmo em tempos de crescimento económico. E sobretudo porque é nas pequenas coisas que vemos quem dá o exemplo. Se uma direcção-geral autoriza despesa em montantes de milhares de euros para uma comemoração, quem acredita que cumprirá, depois, as ordens do Governo para cortar nos gastos?
O pior é que Portugal vive o pior dos tempos para gastos supérfluos, seja dos cidadãos, seja do Estado. Quando o Governo exige ao País sacrifícios, desde Março ─ data do PEC I ─ dificilmente pode explicar que este tipo de gastos continuem a ser noticiados. E mais dificilmente poderá, depois, explicar que tudo fez para ter as contas sob controlo.
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