quinta-feira, 28 de outubro de 2010

OPINIÃO > Luís Costa: «Cosam-se uns aos outros»

Quando era catraio, gostava das procissões, mas não era muito por questões religiosas. Eu e os meus amigos, também danados para as maroteiras, colocávamo-nos atrás das velhas, para lhes ir atando as pontas dos xailes. Na hora da despedida, quando davam conta que estavam todas atadas umas às outras, com nós muito apertadinhos, desatavam imediatamente a pecar por palavras. Lá se ia a compostura!

GLOSA

No ensino, a coisa anda mais ou menos como nas procissões de antanho: andamos todos a coser-nos uns aos outros, e bem cosidinhos! Senão vejamos:

— os directores cosem toda a gente, mas podem bordar, a ponto de cruz, os senhores coordenadores;

— os coordenadores cosem os relatores;

— os relatores cosem os professores;

— os professores cosem-se uns aos outros;

— excepto os que estão no topo da escala costureira, todos os restantes podem ser cosidos por um colega formador, que até pode, na sua escola, ser um simples professor, portanto cosido pelos demais (cose num lado e é cosido no outro).

Na minha meninice, a brincadeira não era tão promíscua: as velhas não se cosiam umas às outras. Éramos nós que as cosíamos, e elas, como eram educadas, retribuíam o gesto: mandavam-nos coser vezes sem conta.

Razão tinha Fócrates, quando dizia que a vida é uma soda!

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