Ana Paula e Américo certificaram competências ao nível do secundário num centro privado no Porto
IVETE CARNEIRO
Como diz o nome, era uma nova oportunidade. Não se podia perder. Para trás, há quase tantos anos como a liberdade, ficava o curso complementar de liceu por concluir. A Matemática e o Inglês trocaram as voltas a Américo Teixeira e a falta de interesse para resolver a questão durante a tropa, ao abrigo da lei militar, fizeram o resto. Arrumou os conhecimentos e a vontade de fazer mais a um canto e virou-se para a vida.
A vida de Ana Paula Campos, essa, não foi uma opção. Repatriada de Angola aos 15 anos, as dificuldades roubaram-lhe o liceu na mesma altura de Américo. A oportunidade, para ela, não é nova. É apenas aquela que, agora, quase formado o filho, se pôde dar ao luxo de agarrar. “Sempre vi a educação como um investimento. Para dá-la ao meu filho, não podia tê-la eu”. Há um mês, subiu mais um degrau na escada do sonho do conhecimento. Concluiu o ensino secundário. Em três meses.
Américo e Ana Paula cumpriram a meta no Centro Novas Oportunidade do Dourocabe, no Porto. Conceição Gonçalves coordena o projecto com um entusiasmo que nada fica a dever a quem procura certificar-se ali. “Aqui aprendem a aprender” e esse é o maior ensinamento de todos. Conceição explica aos adultos ― é assim, e não alunos ― que aquilo não é uma escola, não são aulas. São sessões explicativas para desenvolver a autobiografia onde, ao lado da experiência pessoal e profissional de cada um, se desenvolvem temas. Por escrito.
Parece fácil. Não é, garante Rosa Garcia, formadora. E dá trabalho. Mas, sendo feito em casa, não pode ser pedido a terceiros? Pode, diz Conceição. “Mas nós conhecemos as pessoas e fazemos cruzamentos”. E o que se ensina? Uma data de coisas que não passa pela Matemática nem pela Ciência. Porque essa já está nas pessoas. Vai-se ali mimar a auto-estima, testar capacidades e conquistar o respeito alheio, explica Vera Cruz, avaliadora externa do programa. Que conta de gente que sabe, sem o saber, o teorema de Pitágoras. Porque faz contas de jardinagem, ou de costura.
Fonte: Jornal de Notícias
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