quarta-feira, 20 de maio de 2009

Escândalo das despesas dos deputados britânicos força demisssão do presidente da Câmara dos Comuns

Presidente da Casa dos Comuns

demite-se no meio do escândalo britânico

Resignação só é entregue no dia 21. Sucessor será escolhido dentro do parlamento britânico

“Deixem-me pedir desculpa aos homens e mulheres do Reino Unido, que eu desiludi profundamente.” Michael Martin, decidiu ontem renunciar ao cargo de presidente da Casa dos Comuns do parlamento britânico, depois do escândalo da apresentação indevida de despesas por parte de deputados dos vários partidos, divulgado pelo diário “Daily Telegraph”. Obras de renovação de casas, trabalhos de jardinagem ou decoração de interiores são alguns dos gastos apresentados pelos deputados, perfazendo um valor total de 120 mil euros.

Michael Martin vai renunciar ao cargo dia 21 de Junho. O seu sucessor será escolhido num processo interno da Câmara dos Comuns, mantido ainda em segredo. A antevisão do nome do sucessor é assim difícil de prever. Mas, em Westminster, sede da Câmara dos Comuns, há já uma grande especulação sobre quem será o sucessor. Nomes do parlamento do Partido Conservador, como David Davis, Alan Haselhurst, George Young são apontados como possíveis vencedores. Mas também Norman Baker, membro da oposição liberal democrata que tinha vindo a público dizer que “Martin era um obs- táculo para uma reforma na política britânica”, consta como possível candidato.

Utrapassando a pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial, o primeiro-ministro Gordon Brown insiste em resistir aos apelos para convocar eleições antecipadas.

Como presidente dos Comuns, Martin, um ex-dirigente sindical de 63 anos e actual deputado trabalhista por Glasgow, devia dirigir os debates na câma- ra, mas também era responsável pelo serviço que controla os gastos dos deputados. Foram dados fornecidos por este serviço que permitiram que a imprensa britânica tivesse acesso aos pedidos de compensação dos gastos pessoais dos deputados.

Douglas Carswell liderou uma moção de desconfiança contra o presidente, apresentada por 23 deputados. Para o parlamentar do Partido Conservador, “a soberania do parlamento não é suficiente para a soberania do povo, e é esse o conceito que o sucessor de Martin deve ter em mente, para restaurar a dignidade da política britânica”. Marta Cerqueira

“DECAPITEM-NO” ERA A TRADIÇÃO

Em 1965, John Trevor foi afastado do cargo de presidente da Câmara dos Comuns por ter aceite dinheiro para aprovar uma lei. Este foi o último caso do género a suceder até à demissão de Michael Martin. Há 300 anos que o parlamento não era obrigado a afastar o seu presidente. Nos séculos anteriores, todos os presidentes que por alguma razão se viam afastados do cargo eram assassinados, sete deles decapitados por ordem do rei.

Fonte: i Quarta-feira, 20 Maio 2009 | Ano 1 | N.º 12

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