Há hospitais públicos que têm boas práticas e que têm a geri-los pessoas imbuídas do necessário humanismo, reconhecendo culpas, quando efectivamente elas não devem ser encobertas.
Ora vem isto a propósito do ocorrido no passado dia 4 de Maio. A minha Mãe, já com 84 anos, sentiu-se mal. Depois de observada por um médico, foi conduzida à urgência de um hospital público, com a suspeita de ter sofrido um AVC. Transportada de ambulância, deu entrada nos serviços de urgência por volta das 18 horas. Efectuada a triagem de Manchester, foi-lhe atribuído o cartão verde (caso sem gravidade), vindo a ser consultada por volta da 0:30. Porque achámos exagerado o tempo de espera, foi feita uma reclamação por escrito.
No seguimento dessa reclamação, o Director Clínico do hospital respondeu à mesma, admitindo falhas na observação dos doentes e lamentando e pedindo desculpa pelo ocorrido.
A reclamação foi apresentada não contra nenhum médico em particular, mas contra um sistema que não trata bem aqueles que necessitam de cuidados de saúde, conforme é admitido pelo responsável do hospital em causa. É verdade que houve um tempo de espera exagerado para uma pessoa tão idosa, e foi só esse o motivo da reclamação, mas depois a minha Mãe teve o necessário tratamento e acompanhamento.
Fica provado mais uma vez que temos de protestar, sempre que considerarmos que os serviços públicos não estão a cumprir eficazmente a sua função, de modo a que os mesmos possam ser melhorados.
Aqui fica a transcrição da comunicação remetida pelo Director Clínico do hospital:
Data: 12.05.2009
Assunto: Exposição n.º ____________
Vimos pelo presente meio acusar a recepção da exposição em epígrafe, a qual mereceu a nossa melhor atenção.
Face ao teor da mesma, cumpre-nos informar que foi solicitada informação ao Chefe de Equipa da Urgência, o qual informou que o tempo alvo para a primeira observação não foi cumprido demonstrando escassez de recursos humanos ao nível do pessoal médico face ao cada vez maior número de pacientes com critérios de gravidade, consumindo tempo para observação e orientação e atrasando a observação dos restantes doentes, como foi o caso.
Apesar da escassez de recursos humanos (médicos, enfermeiros e auxiliares), de um espaço físico exíguo, disfuncional e desumano para os doentes e profissionais, poder-se-ia fazer mais para tratar melhor os doentes.
Numa altura em que a Via Verde do AVC teve início no nosso hospital é inaceitável que um grande grupo de pacientes com suspeita ou mesmo com AVC confirmado (ainda que sem indicação para trombólise) não sejam melhor tratados desde o início com a sua inclusão num circuito de gestão próprio que abrevie a sua observação, decisão clínica e orientação final.
Efectivamente, constata-se a necessidade de reestruturação do Serviço de Urgência e a necessidade de investir em melhores recursos humanos, instituições de protocolos de avaliação e actuação clínica, e de orientação dos doentes após a observação inicial. Verifica-se ainda necessidade de agilizar procedimentos e procurar cumprir, tanto quanto possível, os tempos alvo para a primeira observação e subsequente observação pelas especialidades, evitar permanências exageradas e injustificadas dos pacientes nas áreas de triagem e observação médica ou cirúrgica e mesmo no Serviço de Obseryações.
Lamentamos e pedimos as nossas sinceras desculpas pelo ocorrido e pelo incómodo causado à doente.
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