Celebra-se hoje, dia 23 de Abril, o Dia Mundial do Livro, por Iniciativa da UNESCO.
São poucas as palavras para enaltecer, como é devido, o valor de um bom livro; digo «bom», porque há para aí muito papel impresso e bem encadernado que não é senão um amontoado de asneiras.
O tão apregoado aumento da escolaridade obrigatória levou muita gente a pensar que a procura do livro ia aumentar, mas enganou-se, porque a tal escolaridade obrigatória só tem criado uma nova geração de analfabetos, tão pobre ela é.
Os meios audiovisuais também não vieram favorecer o livro, se bem que muitos de nós, falo por mim, quando ouço na TV uma notícia que me escapa, penso ― amanhã leio no jornal. A palavra escrita ainda se impõe sobre a palavra falada.
Havia e ainda há muita gente por esse mundo fora para quem os livros são um ornamento. E não são só os analfabetos ― são os snobs ― uma biblioteca vasta e com belas encadernações à vista, pode esconder só exibicionismo.
Mas por falar em analfabetismo, queria referir uma forma de analfabetismo a que Francisco Ayala, membro da Real Academia Espanhola da Língua, chama «analfabetismo funcional», ou seja, o deixar de saber ler, por falta de uso dessa capacidade ― perderam o hábito da leitura e quando querem retomá-Io já não são capazes, muito por culpa dos meios audiovisuais.
Não nego aos meios audiovisuais algum valor no interesse pela leitura, mas o que se verifica em muitos casos, quer na rádio, quer na televisão, é uma pobreza de linguagem confrangedora, quando não a deturpação voluntária da própria linguagem. Isto acontece com frequência nos anúncios televisivos onde se associam o som à imagem e permitem-se apresentar erros ortográficos, empregando palavras homófonas (veja-se o que se passa com um jornal diário e gratuito ― o nome é OJE).
O hábito da leitura aprende-se, como todos os hábitos bons na família, mas muitos pais pensam que se confiam os filhos à Escola esta é quem deve motivá-Ios. (De facto, se se defende que as “criancinhas” devem permanecer nas escolas 12 horas, deve haver tempo para lhes inculcar o gosto pela leitura. Como troça, li algures, por que não se arranja maneira da Escola também dar o “banhinho” e o “jantarinho” e os paizinhos quando vão buscar ao fim do dia a “mercadoria” ― os filhos estes estão prontinhos para ir para a cama!)
Como vão ganhar gosto por ler os nossos jovens, quando o pai só lê os jornais desportivos e a mãe as revistas “fofoqueiras”? Não sobra tempo para ler um bom livro e discuti-lo em família.
É certo que o livro parece querer emergir da crise profunda em que mergulhou e muito se deve às chamadas “Bibliotecas Itinerantes” e às “Feiras do Livro”.
Mas voltemos ao «analfabetismo funcional». A perda do hábito de ler não leva só à incapacidade de ler, atrofia as capacidades imaginativas e o raciocínio. O que entra pelos olhos (TV) é assimilado sem reflexão; o que é obtido pela leitura (livro ou boa revista) exige esforço mental, estimula a imaginação, as potências intelectuais e o sentido crítico. Estudos recentes provam que quem abandona o hábito de ler, envelhece mais cedo ― não pelas rugas, mas pela apatia em que mergulha.
Não queria deixar de me referir aos «livros condensados», que não passam afinal de resumos onde muitas vezes se sonega o essencial para dar mais relevo ao que é chamativo ou comercial. Quem os lê fica com «uma vaga ideia» da obra em causa, mas falta-lhe a substância. Fica pela ramagem e não consegue chegar ao fruto, afinal, na grande maioria dos casos, o mais saboroso.
Maria Fernanda Barroca
Diário do Minho Ano XC | N.º 28 476 |
QUINTA-FEIRA | 23 de Abril de 2009
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