Os pais preocupam-se muito com o grupo de amigos dos seus filhos adolescentes. Crêem que a influência é grande e que muitos dos aspectos negativos dos seus filhos são causados por pressão dos amigos, a quem às vezes designam por “bando” ou “más companhias”.
É certo que os amigos são centrais na adolescência e essenciais no jogo de comparações e identificações que devem caracterizar o percurso para a idade adulta. Os jovens ganham em perceber que existem outros com dúvidas semelhantes e em compreender que, apesar disso, ninguém é igual a outra pessoa. Os amigos do grupo influenciam em muitos aspectos do quotidiano, como o vestuário, o penteado ou os adornos e exercem pressão em certos comportamentos (hábitos de consumo, horários, preferências estéticas), sendo importante verificar se os adolescentes em causa não cedem apenas para não serem marginalizados.
Os pais preocupam-se sobretudo quando, em contacto com o grupo juvenil, os filhos adolescentes aderem a comportamentos que não são aceites socialmente e que estão fora dos hábitos e valores da família. A solução não está em proibir as saídas (a não ser nos casos em que há evidente risco para a saúde e segurança, onde a negociação não pode existir!), mas na atenção constante ao que se está a passar, na combinação renovada e na firmeza no cumprimento do que foi acordado. Em muitas interacções agressivas entre pais e filhos, impressiona verificar como ninguém escutou ninguém e se tentaram impor, de forma simétrica, os pontos de vista antagónicos das duas gerações. Interessa verificar também como vão as coisas em casa, em vez de só prestar atenção ao que se passa lá fora: quando existe um ambiente de empatia e comunicação clara e compreensiva na família, é menos provável que o adolescente adira com grande entusiasmo a comportamentos do grupo que se caracterizam pela transgressão e pelo risco persistente. Interessa pensar se a escolha do grupo ou a preferência pelo “bando” se faz por acaso (pouco provável) ou se, pelo contrário, é determinada pela biografia do jovem e pelos acontecimentos do seu percurso.
O estatuto dos jovens no seio do grupo é muito importante e convém que os pais tenham alguma noção do que lá se passa, respeitando a privacidade da geração mais nova. Por exemplo, sabe-se que alguém mais forte e corajoso, com mais iniciativa e poder de comunicação, tem mais possibilidade de liderar o grupo e, como tal, é capaz de exercer maior influência; mas o líder pode também ser o mais agressivo, o que se aguenta melhor com o álcool e as drogas ou aquele capaz de desafiar mais a autoridade dos professores. Por outro lado, sabe-se que adolescentes deprimidos e inseguros, com baixa auto-confiança e pouca auto-estima, são mais vulneráveis às pressões dos companheiros.
É assim crucial que os pais sejam capazes de estar atentos e, sobretudo, se esforcem por desenvolver a auto-confiança nos filhos adolescentes. Não pretendo, no entanto, afirmar que tudo depende dos progenitores: como já escrevi, muitos adultos receiam responsabilizar os mais novos e têm dúvidas em capacitá-los para serem cada vez mais cientes da sua confiança. Aos filhos compete lutar pelos seus pontos de vista, mas perceber que os pais são importantes na formação da sua opinião. Os pais devem elogiar mais do que criticar, apreciar as manifestações responsáveis e criativas por parte dos filhos, responder com atenção e carinho às suas questões, promover pela sua parte um clima emocional na família que contribua para pensar e agir com segurança e sentido do outro.
Os pais e os amigos têm funções bem diferentes junto dos adolescentes. O que interessa é garantir aos jovens que, de uma forma complementar, estão todos disponíveis para os ouvir, mesmo quando eles, à partida, parecem rejeitar essa proximidade. E aos pais convém lembrar que os adolescentes, quando se vêem ameaçados nas questões decisivas do seu crescimento emocional, acabam por recorrer de preferência aos pais, se estes não tiverem fechado definitivamente a porta.
PÚBLICA 12/04/2009
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