domingo, 19 de abril de 2009

OPINIÃO > Cunha Ribeiro: «E depois admiram-se...»

O anterior paradigma que endeusava o padre da paróquia e o professor primário foi modernamente substituído pela emblemática figura do “empreiteiro” (do regime) e do político (de carreira).

Tanto um como outro são arrepiantes caricaturas sociais. Por isso, nem o anterior paradigma me desperta simpatia; nem o segundo me merece respeito.

Na época em que o sacerdote transformava o sermão em comício, amedrontando o “rebanho” com a terrível ameaça do “fogo do Inferno”, vivia-se o império do preconceito religioso. Havia mais pecados do que pecadores e menos virtudes do que vícios. Cristo estava em toda a parte com o exclusivo intuito de nos intimidar. Não ir à missa era um pecado mortal e roubar era venial. A mulher pública era uma reles prostituta e o homem público era um senhor respeitável.

E o povo?

O povo ouvia o padre, tinha medo do Inferno, e lá ia obedecendo.

Hoje, porém, vivemos o exagero oposto. O poder da religião e do sacerdote deu lugar à religião do poder e do dinheiro. Os adolescentes já não querem ser padres nem professores. Preferem imitar os afortunados donos das “massa” que fumam charuto e coleccionam carros de luxo. Admiram até à insensatez o parasitismo dos “espertos” que escarnecem dos “ingénuos” cidadãos que pagam impostos.

E é neste fantástico cenário onde o lucro, a riqueza e o vício são protagonistas que se empurram par a escola os “absorventes servos do prazer” a fim de lhes martelar aos ouvidos, vedados de minúsculos auscultadores, os valores da justiça, do bem e do sacrifício.

E depois admiram-se que haja professores agredidos nas escolas e a insustentável rebeldia adolescente não pare de aumentar nas “celas de aula” do nosso país.

C.R.

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