Num texto intitulado “Can Education do it alone?” Henry Levin e Carolyn Kelley defendem que a educação pode contribuir decisivamente para muito daquilo que lhe é exigido, mas apenas se as condições necessárias para tal forem proporcionadas; isto é, “apenas se a educação se traduzir em oportunidades” poderá efetivar o seu potencial. Dito de outro modo, “a educação apenas pode contribuir para aumentar a produtividade se houver oportunidades de emprego para trabalhadores mais produtivos”. A perspectiva de que a educação pode, por si mesma, resolver problemas de produtividade e competitividade da economia, ignorando outras condições necessárias ― novos investimentos, novos métodos de organização do trabalho, novas abordagens de gestão ― tem como conseqüência, segundo os mesmos autores, que as empresas “são reforçadas nas suas crenças de que o principal obstáculo ao seu sucesso é a pobre educação da força de trabalho”, distorcendo assim as políticas nacionais e industriais para direções incapazes de favorecer a produtividade nacional (cf. Levin, Kelley, 1997, p. 240, 245). Nesse sentido, coloca-se a questão de se saber em que condições a competitividade das economias pode ser potencializada pela difusão de elevados níveis de educação e formação. Uma boa parte da investigação disponível defende a importância decisiva de as políticas econômicas e industriais serem orientadas para favorecer quer um volume e composição adequados de investimento, quer alterações profundas na organização da produção e do trabalho. Ou seja, segundo os autores, a ausência ou subdesenvolvimento de tais processos tornam ilusórias, ou mesmo perversas, as expectativas criadas acerca dos benefícios decorrentes de uma força de trabalho mais educada.
Argumentando num sentido convergente, Kovács sublinha a relação de mútua sustentação entre as políticas públicas, as estratégias patronais e sindicais, os modos de organização do trabalho e a educação e formação na criação de condições que viabilizem o que designa como novo paradigma produtivo, orientado não só para a competitividade da economia como para a democratização da vida social, nomeadamente na esfera do trabalho (cf. Kovács, 1998, 1998a, 1998c, 1998d).
Tendo-se consolidada a perspectiva de que as formas de organização do trabalho condicionam decisivamente as oportunidades de mobilização e desenvolvimento dos saberes e competências individuais e coletivos dos trabalhadores, alguns autores defendem que no interior das organizações têm lugar processos bloqueadores ou propiciadores da aprendizagem que são em grande medida dependentes do tipo de gestão e das características das situações de trabalho. A esse propósito, por exemplo, são freqüentes, em relação à indústria portuguesa, as referências a “processos de antiaprendizagem”, a “perdas de investimento em formação profissional associadas a determinadas formas de organização do trabalho mais tradicionais” (Moniz et al., 1998, p. 64-5; cf. também Kovács, 1998d) ou mesmo a “regressões culturais” ou à dissipação do “potencial humano adquirido no sistema de ensino” (Pinto, 1994, p. 178, 1997, p. IV; cf. também Afonso,1999, p. 24-6).
Parece, assim, que a aparente linearidade da ligação entre educação, desenvolvimento econômico e competitividade apresenta meandros e contornos bem mais complexos ― pelo que, a desvalorização sistemática das mediações e condições que qualificam aquela relação produz não só um profundo enviesamento da interpretação da realidade como pode igualmente resultar num equívoco perigoso do ponto de vista das suas conseqüências sociais.
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Almerindo Janela Afonso e Fátima Antunes
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