Já não há volta a dar. A barragem do Tua começou a ser construída, com argumentos conhecidos e mais que debatidos. A redução da dependência energética, nos dias que correm, será porventura o mais forte e indiscutível. Será assim mesmo? O empreendimento hidroeléctrico do Tua produzirá uma parcela muito reduzida da energia que consumimos. E, no entanto, perde-se uma das paisagens mais impressionantes do país.
Não será por acaso que a região do Douro, de que o Tua faz parte, conquistou o alto estatuto de património Mundial da UNESCO. Como se sabe, agradar a Deus e ao Diabo nem sempre é possível. A paisagem, tal como a conhecemos hoje, acabou. Restam alguns dias, antes que as máquinas esventrem tudo, para se observar a excelência do vale, depois será matéria documental. Até podem dizer-nos que o espelho de água criado pela albufeira será de uma beleza extraordinária, capaz de potenciar o turismo, de captar investimento e por aí fora. Mas jamais será paisagem única, património da humanidade.
A barragem do Tua, um investimento de 305 milhões de euros, criará, de acordo com dados do Governo, quatro mil postos de trabalho, mil dos quais directos. Tal como aconteceu noutros locais, estes postos de trabalho existem enquanto a barragem estiver em construção. Depois, a história será idêntica ao que acontece em todos os locais onde foram construídas barragens.
Que benefícios retirou a população de Vieira do Minho das inúmeras barragens construídas no concelho? Nenhum. E em Trás-os-Montes? Se o nível de emprego e de desenvolvimento fosse proporcional aos empreendimentos hidroeléctricos, a região do Douro estaria na linha da frente, e não está.
A questão que se mantém em relação à barragem do Tua, uma de nove previstas no Plano Nacional de Barragens, é saber se o benefício compensa o que destrói: da paisagem, e tudo que a ela está inerente em termos de biodiversidade, ao turismo. As dúvidas persistem, o futuro dirá o que se perde para sempre.
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