É um (pois há mais) dos números da besta apocalíptica da violência doméstica em Portugal: 43 mulheres foram assassinadas por maridos ou companheiros, ou ex uma coisa e outra, em 2010, o que dá algo como 250 homicídios de mulheres só nos últimos sete anos.
Acrescentem-se os assassínios de crianças dentro das paredes familiares e os maus tratos físicos e psicológicos que não redundam em morte e não chegam aos jornais e teremos uma ideia aproximada da realidade da “casa portuguesa com certeza” e da tal sociedade de brandos e cristãos costumes (o que quer que “cristãos” signifique em matéria de costumes que, tendo em conta o que há tempos dizia o reitor do Santuário de Fátima, não será coisa particularmente recomendável).
A criminalização da violência doméstica é recente entre nós, mas deve-se-lhe o mérito de ter posto o fenómeno na ordem mediática do dia, de onde sempre esteve arredada pela atávica cultura do “entre marido e mulher não metas a colher” (e, em relação aos filhos, pela do “quem dá o pão, também dá o pau”).
O Direito não é só expressão dos valores morais dominantes numa sociedade. “Produz” igualmente moral. Como sucedeu com o abuso sexual de menores, boa parte da sociedade portuguesa só se apercebeu que maltratar mulher e filhos é moralmente condenável quando isso caiu sob a alçada penal. Infelizmente os últimos a receber a mensagem parecem ser algumas autoridades policiais.
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
«O número da vergonha»
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