Geração parva: diplomados sem emprego eram quase 190 mil em 2010
Diplomados precários mais do que duplicaram em dez anos
13.02.2011 — 15:46 Por Raquel Martins, com Andreia Sanches
São cada vez mais no mercado de trabalho, mas o seu bilhete de entrada para o “maravilhoso” mundo dos que conseguem emprego tem sido pago, sobretudo, à custa da precariedade. Na última década, o número de diplomados com vínculos precários — contratos a termo, recibos verdes ou outras formas atípicas de contrato, sem contar com os estágios não remunerados e os bolseiros — mais do que duplicou.
Eram 83 mil no final do terceiro trimestre de 2000 e no final de Setembro do ano passado chegavam já aos 190 mil. E é a muitos destes — e a muitos dos que engrossam os números do desemprego — que a canção dos Deolinda «Que Parva que eu sou» assentou que nem uma luva. Nas redes sociais, nas escolas, nas universidades, os mais jovens reviram-se naquele público que, quando há duas semanas nos coliseus do Porto e de Lisboa ouviu “Já é uma sorte eu poder estagiar”, aplaudiu de pé a voz de Ana Bacalhau.
A precarização do trabalho não é um problema exclusivo dos que têm formação superior. É um problema dos jovens e dos que entraram no mundo do trabalho nos últimos anos. Mas os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) não deixam margem para dúvidas: é entre os que saem das universidades e dos institutos politécnicos que os contratos a termo ou os recibos verdes mais têm crescido — 129 por cento — em comparação com o crescimento de 5,8 por cento verificado entre os que não foram além do ensino básico ou secundário.
A canção dos Deolinda é “um grito de revolta”, nas palavras do reitor da Universidade de Lisboa, António Nóvoa. “É um grito contra duas ideologias muito marcantes nos últimos anos em Portugal: a ideologia do capital humano, que trouxe aquilo a que designamos a armadilha do diploma, como se o facto de ter um fosse, por si só, um factor de sucesso e emprego — e hoje as pessoas percebem que não é, e passam de um diploma para outro diploma. Mas também contra a ideologia da precarização — deste manter as pessoas numa zona cinzenta, do recibo verde, do estágio, da bolsa, sem que lhes seja dada uma oportunidade de carreira.”
Na última década, as fornadas de jovens que saíram do ensino superior mudaram a estrutura do emprego. O peso dos diplomados no total de trabalhadores por conta de outrem passou de 11,2 por cento em 2000 para os 18,5 por cento no ano passado. No mesmo período, os não licenciados — a esmagadora maioria dos que trabalham para um patrão — diminuíram 2,1 por cento). O problema está em saber se estes jovens qualificados que entram no mercado de emprego vão ou não desempenhar funções compatíveis com a sua formação.
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► PÚBLICO
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