segunda-feira, 20 de setembro de 2010

«Com o FMI à porta»

1. Portugal pode ser comparado a uma família numerosa que todos os meses, todos os dias, gasta mais do que ganha. Até agora, essa família, que já merece ser apodada de estupidamente irresponsável, tem contado com o apoio dos familiares e amigos (o seu “mercado” particular) que foram adiantando o dinheiro para a manutenção de um estilo de vida superior às possibilidades do agregado. O problema está em que, à falta de sinais de credibilidade do governo da casa, o dinheiro extra está prestes a deixar de entrar.

Os tais familiares e amigos, colocados perante a possibilidade real de nunca mais receberem o que emprestaram, começaram por aumentar os juros, mas admitem já deixar de emprestar. Têm receio, legítimo, de nunca mais receberem o que lhes pertence. Não vêem nem mudanças nem poupanças.

A família não é capaz de se autodisciplinar, de merecer a confiança da comunidade. E porque o seu chefe é incapaz de dizer “não” às birras das crianças, às extravagâncias da mulher, aos seus próprios vícios, está na fronteira de passar — e a família com ele — a vergonha de ver alguém a mandar na sua própria casa. Serão os credores a administrar o dinheiro, a escolher as refeições, a comprar a roupa, a determinar como se gasta e onde se gasta.

Entre a miséria e a sobrevivência, esmagadas pelo crédito da casa que não podiam comprar, do carro que não deviam ter e do luxo que não deviam frequentar, as famílias costumam pedir ajuda exterior para voltarem à normalidade de uma vida séria.

É este, hoje, o cenário que, cada vez com maior realismo, se coloca ao País, à família que somos.

Continua…

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