Professores preferiam revisão curricular à definição de metas
Alexandra Inácio
As metas de aprendizagem do pré-escolar ao 9.º ano devem ser disponibilizadas dia 15. O instrumento, que será aplicado por algumas escolas, é uma novidade deste ano lectivo. Os docentes preferiam uma revisão curricular e o reordenamento de ciclos de ensino.
O número de escolas que irá usar as metas durante este ano lectivo “ainda não está, completamente fixado”, garantiu ao JN Natércio Afonso, coordenador do projecto. O Ministério da Educação (ME) vai convidar as escolas a aderirem à sua aplicação e espera receptividade. O “instrumento pretende ser um contributo para a melhoria dos resultados escolares”, de modo a que o país descole da cauda da Europa, mas os professores manifestam cepticismo quanto à eficácia da medida e preferiam uma reforma mais profunda do sistema.
“Ainda mais num momento de alargamento da escolaridade, era isso que devia ser feito: repensar o sistema e reorganizá-lo de acordo com essa nova exigência. Isso é que é prioritário”, sublinha ao JN o secretário-geral da Fenprof. Mário Nogueira admite que os programas estão “desadequados”, mas receia que a definição de metas sem uma ampla revisão curricular se resuma a “um ‘simplex’ programático”, que contribuirá não para a melhoria das aprendizagens, mas para a diminuição do nível de exigência no ensino.
Paulo Guinote, autor do blogue “A Educação do meu Umbigo”, também teme que as metas sejam uma medida meramente “cosmética”. Das duas uma, sublinha: ou serão uma repetição dos objectivos já traçados no currículo nacional do Ensino Básico ou uma espécie de “programa mínimo”. Para já, o projecto “não passa de uma grande incógnita”, insiste o líder da FNE, João Dias da Silva, que também defende como prioritária a revisão curricular.
Já para o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) o reforço da autonomia das escolas é a auto-estrada que deve ser aberta para o país inverter os maus resultados.
“O poder tem de passar da 5 de Outubro e das direcções regionais de Educação para as escolas”, sendo essa passagem acompanhada de transferência de meios físicos e humanos, sustenta a instituição.
A qualidade do ensino deixou de ser garantida só pelos professores e as escolas “precisam de outros serviços” e técnicos, sobretudo para resolverem problemas sociais. Só assim se combaterá o abandono e o insucesso, considera Adalmiro Botelho da Fonseca.
Sobre as metas, reconhece a utilidade do instrumento, mas defende que devem poder ser adaptadas à realidade de cada estabelecimento. “Os problemas pedagógicos não podem ser resolvidos de forma geral, a partir de Lisboa”.
O ME acredita que o instrumento constituirá uma alavanca para a melhoria dos resultados dos alunos. Claro que esse “processo não será automático”, admite Natércio Afonso. “Os professores vão ter de as usar e usar bem”; a “expectativa é que sintam mesmo a sua falta”, sublinha o professor da Universidade de Lisboa, para quem a aplicação “nunca poderá ser obrigatória, mas sempre voluntária”.
As metas de aprendizagem para todas as áreas e disciplinas do pré-escolar ao 9.º ano do Ensino Básico vão ser disponibilizadas a partir de próximo dia 15, na página electrónica da Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular. Durante o próximo ano lectivo, a equipa de Natércio Afonso definirá as metas para o Ensino Secundário, que serão aplicadas em 2011-2012.
Comentário:
Esta passagem deixa-nos perplexos:
“O ME acredita que o instrumento constituirá uma alavanca para a melhoria dos resultados dos alunos. Claro que esse “processo não será automático”, admite Natércio Afonso. “Os professores vão ter de as usar e usar bem”; a “expectativa é que sintam mesmo a sua falta”, sublinha o professor da Universidade de Lisboa, para quem a aplicação “nunca poderá ser obrigatória, mas sempre voluntária”. “
Se “os professores vão ter de as usar”, por que razão a aplicação “nunca poderá ser obrigatória, mas sempre voluntária”?
Por mais voltas que dê, não percebo o alcance das afirmações de Natércio Afonso. Então depois de ter sido criado o elixir do sucesso escolar, o mesmo não deverá ser de aplicação obrigatória em todas as escolas?
Esclareça esta aparente contradição quem for capaz…
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