Não chegou a ser uma mudança, foi só um acrescento. Porquê? Porque (ainda) não consigo apagar esse título de ‘memórias de professora’.
A razão de não apagar é que, embora tenha deixado de escrever essas memórias, por um lado tenho bastantes nos arquivos e marcadores e, por outro lado... enquanto há vida, há esperança, não é? Esperança de que ainda volte a haver um clima na Educação propício a que recorde aqui tantas outras que não cheguei a escrever:
memórias dos tempos em que no meu grupo disciplinar todos gostavam de cooperar e partilhar, de encontrar em conjunto novas estratégias, de pôr dúvidas, de nos enriquecermos uns aos outros;
memórias dos tempos em que eram promovidos pelo próprio ministério da educação encontros regionais de delegados (agora chamados coordenadores e outras coisas como avaliadores, relatores, etc.), bem como encontros de coordenadores da direcção de turma ― encontros que, também pela partilha entre todos, nos faziam regressar à escola com novas ideias a transmitir aos colegas;
memórias dos tempos em que se promoviam iniciativas extracurriculares para os alunos, proporcionando a integração dos chamados casos-problema e o crescimento de todos;
memórias dos tempos em que cheguei a ter na minha sala de aula colegas que, quando o horário permitia, iam participar para me ajudarem nalguma iniciativa experimental nada fácil de concretizar sozinha;
memórias dos tempos em que o director de turma tinha como tarefas meramente burocráticas apenas aquelas normais e indispensáveis;
memórias desses tantos anos de directora de turma em que me envolvia com a turma em iniciativas que resultavam lindas porque as turmas correspondiam como maravilha a ultrapassar as minhas melhores expectativas (embora estas sempre confiantes ― essa confiança que o aluno sente e o leva a corresponder);
memórias desses tantos anos de directora de turma em que pais e mães não faltavam às reuniões porque logo no início do ano ficavam delineados os temas que os preocupavam e interessavam e percebiam que essas reuniões não seriam para uma mera distribuição de fichas de avaliação nem para pessoalizações relativas aos alunos, e em que compreendiam a importância de ao menos uma entrevista individual tão brevemente quanto a calendarização das entrevistas permitia (incluindo tempo meu disponível para receber após o horário de trabalho de alguns deles ― “tempo disponível” que referir actualmente até é humor negro desrespeitador);
memórias dos tempos em que tinha tempo para inventar e preparar momentos roubados à ‘matemática do programa’ para proporcionar, nas aulas, daquelas actividades a que aderem os “mais difíceis” e fazem crescer as asas em todos;
memórias, enfim, das minhas aulas de porta aberta, em que umas entradas de um avaliador competente não me causariam receios de competições, de favoritismos ou de outras coisas como tais, nem de penalizações injustas na progressão na carreira.
Assim, este blogue vai continuar como anda desde o aparecimento de MLR (ou nem isso, pois já perdi a paciência quer para o ME, quer para climas de escola em que as relações interpessoais se deterioram, em vez de a política desse ministério criar, como reacção, coesão e fraternidade, o que também me fez deixar de escrever sobre a dita política educativa), ou seja, vai continuar com outras e diversas deambulações ao sabor do acaso ou da disposição. Com alguma esperança... até um dia... até um clima propício a regresso a memórias positivas que, apesar de antigas, deveriam, com os devidos ajustes, ser sempre actuais.
Com a devida vénia à Isabel Campeão
► Blogue Memórias Soltas de Prof
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