O envelhecimento dos docentes terá alguma ligação com o insucesso escolar?

Educadores de infância são o grupo mais envelhecido

Por Clara Viana

O envelhecimento da classe docente poderá não ser alheio ao insucesso escolar, adverte docente da Universidade do Porto

Ao contrário do que as exigências próprias do pré-escolar fariam supor, os educadores de infância, que trabalham com crianças entre os três e os cinco anos, são, em proporção, o grupo mais envelhecido entre os professores do ensino não-superior. Em 2007/08, quase 50 por cento tinham entre 40 e 49 anos, revela mais uma edição do Perfil do Docente, editado pelo Ministério da Educação, com base em dados respeitantes àquele ano lectivo.

O grupo dos 40 aos 49 anos era também o mais numeroso (33 por cento) no conjunto dos 163.938 docentes do pré-escolar ao ensino secundário então contabilizados. Mas, no ensino público, o Índice de Envelhecimento dos docentes que davam aulas ao 3.º ciclo do básico e secundário era de 116,4; enquanto, entre os educadores de infância, subia para os 441,6 (15,4 no ensino particular).

O Índice de Envelhecimento dá conta do rácio entre o número de docentes com idade igual ou superior a 50 e os que têm menos de 35. Em todos os níveis de ensino, este indicador era muito mais elevado no ensino público do que no particular. Juntando o público e o privado, o segundo ciclo do básico (5.º e 6.º ano) aparece como o campeão, com um índice de envelhecimento de 171,6. É neste nível de ensino que se encontra a maior percentagem de professores com 50 ou mais anos.

Envelhecimento e insucesso

Nas escolas, a presença de diferentes grupos etários equivale à coexistência não só de formações distintas como de “diferentes concepções do que é ser professor, tanto em termos das metodologias de acesso ao conhecimento preferidas como de visões de autoridade ou de perspectivas sobre a desigualdade e a equidade”, lembrou ao PÚBLICO Amélia Lopes, professora da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Se os índices de envelhecimento forem vistos nestas perspectiva, ou seja, “transportando em si muito mais do que eles próprios”, podem levantar-se outras questões, adiantou aquela docente, lembrando, a propósito, que, no ensino básico, “é nos anos que correspondem a mudança de ciclo (5.º e 7.º ano) que o insucesso escolar é mais elevado”. “Neste contexto, sem dúvida que o envelhecimento da população docente no 2.º e 3.º ciclo do ensino básico é preocupante”, frisou.

Entre 1997/98 e 2007/08, terão entrado nas escolas mais 5500 professores (no último ano, devido a reformas antecipadas, saíram outros tantos), mas só no primeiro ciclo (antiga primária) ocorreu de facto um rejuvenescimento. Para Amélia Lopes, esta mudança é “uma muito boa notícia”, tanto “pelo facto em si como por estar relacionada com uma melhoria da formação inicial associada”.

Na sua maioria, os educadores de infância e os professores do 1.º ciclo são formados pelas escolas superiores de Educação. Até ao final dos anos 90, a sua formação ficava-se pelo bacharelato (cursos de três anos), mas a partir de então começou a ser exigida uma licenciatura. Amélia Lopes lembra que, com a conclusão do processo de Bolonha, o grau de mestre passará a ser condição de acesso à profissão docente: “A tendência será para uma melhoria do nível objectivo de qualificação”.

Com o aumento do número de professores e a diminuição do número de estudantes inscritos (menos 209 mil em 10 anos), o número médio de alunos por docente também se reduziu. Na pré-escolar era de 15,7, no 1.º ciclo 14,5, no segundo ciclo 7,1 e no terceiro 7,7. São dos rácios mais baixos da União Europeia. À excepção do 1.º ciclo, o número de professores contratados (que não estão no quadro) também diminuiu entre 1997/98 e 2007/08.

Fonte: PÚBLICO

Comentário:

A associação do insucesso escolar com a idade dos docentes não lembraria ao Diabo! Mas, enfim, há sempre quem consiga tirar conclusões estapafúrdicas de dados objectivos, quanto mais não seja para surpreender quem lê os resultados de tais estudos.

Ora eu que tenho lido dezenas de livros de pedagogia, estudos considerados sérios, conheço variadas técnicas de ensino, sinto cada vez mais dificuldades em melhorar as aprendizagens de alguns alunos. E a uma conclusão já eu cheguei há muito tempo: não se consegue ensinar seja o que for a quem não quer aprender ou não faz qualquer esforço para aprender.

Será que esta minha dificuldade tem ligação com o avançar na idade? Se assim for, o governo só tem uma solução: rejuvenescer a classe docente, precisamente o contrário do que tem vindo a fazer!…

Era tudo tão simples se uma única variável explicasse tudo, não era?

► Ver Perfil do Docente 2007/08