O antigo ministro e actual presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos agradece “aos deuses” ter vivido a Revolução de 1974. Crítico do estado do País, António Barreto diz no entanto que Abril permitiu que os portugueses ficassem “um pouco mais iguais”. Uma entrevista em que fala de Portugal e da política, de Cavaco Silva, José Sócrates e também de Passos Coelho.
Aqui fica um extracto contendo a sua resposta no que diz respeito à Educação.
Concretamente, em relação à educação, o que tem a dizer?
Em relação à educação, o que está no haver é a universalização. Todas as crianças, todos os jovens vão à escola, a escolarização é completa, a rede escolar cobre o País inteiro, toda a gente tem acesso à educação e à escola, não há barreiras definitivas. O apoio social é considerável, não é muito grande, mas é considerável, há bolsas de estudo, até mesmo para o ensino secundário e ainda mais no ensino superior. Isto é o que está no haver, está conseguido. Parece um lugar-comum, que é uma coisa simples. Não é. Para Portugal, não é. Portugal puxou o analfabetismo e a falta de educação até muito tarde, só nos finais nos anos 60, meados, nos finais dos anos 60, ainda no antigo regime, é que começou a haver qualquer coisa no sentido de estimular, fomentar a educação. Recordo que o programa do eng. Veiga Simão, quando foi ministro do Marcelo Caetano, era democratizar a educação. A democratização da educação começou ali. Mas, de facto, foi depois do 25 de Abril que as coisas atingiram a dimensão que atingiram. O que está no deve? Que os princípios inspiradores ─ a teoria geral, a estratégia, a organização filosófica, cultural e política da educação ─ deram errado. As modas efémeras, as modas pedagógicas, a inversão de tantas funções… o facto de hoje se dizer em Portugal ─ e creio que noutros países, não é um facto só português ─ “o importante são as competências, não é saber.” Isto a meu ver é um erro. Há quem diga que é mais importante uma pessoa saber ler o horário do comboio ou a bula do medicamento do que ler Camões ou Platão, isto é outro erro. A democracia cultural e da educação é dar a toda a gente Platão, Aristóteles, Camões, seja o que for. Isso é que é saber. Substituir por competências é um erro. Dizer que na sala de aula são todos iguais, professores e alunos, é outro erro. Dizer que aprender é um prazer e não um trabalho e um esforço é outro erro. Estes princípios ─ dizer que a sala de aula é um sítio de aprendizagem, não é um sítio de ensino ─ são outro erro. São estas inversões nos princípios que presidem à educação que a meu ver deram errado. E deram errado, vejam-se os resultados.
Fonte: TSF
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