Para se compreender o mal-estar que hoje grassa nas nossas escolas é preciso conhecer o que lá se passa, nas salas de aula, nos corredores, nas cafetarias, nos recreios, nas salas de professores, nos gabinetes dos conselhos executivos, sob pena de continuarmos a negligenciar a educação e a empenhar o sucesso dos nossos alunos, entendendo-se por "sucesso" tudo aquilo que possa vir a beneficiar um aluno quer em termos de aprendizagens quer em termos de atitudes e de preparação para a cidadania. Contudo, a grande ênfase tem sido dada não à procura desse conhecimento mas a outros factores de índole política, social e económica, olvidando-se que a educação de qualidade se processa nas escolas. Se a melhoria do ensino é uma prioridade, então será com base nas escolas que ela se processará e nunca através de um processo político baseado em premissas que se afastam dos interesses dos alunos, das famílias e dos professores. É da responsabilidade da comunidade escolar - professores, executivos, agentes especializados e pais – a organização de actividades multifacetadas que favoreçam o processo educativo, numa constante procura da excelência, excelência essa que só será atingida por aqueles, e só por aqueles, que fazem parte da realidade educativa que cada escola prefigura. Seja qual for a concepção de educação, a excelência só se obtém através de um processo educativo de qualidade sedeado nas escolas e não fora delas.
Este facto, geralmente reconhecido pela maioria dos professores e dos pais, continua à margem das esferas sociais e políticas, levando a mal-entendidos que, como temos tido a oportunidade de verificar, têm dominado a discussão pública. O desafio com que os professores, os alunos e os pais se têm vindo a confrontar tem-se mostrado de uma dificuldade extrema, tantas têm sido as pressões a que eles têm sido expostos, sem que elas se identifiquem com objectivos e processos educativos de qualidade. E se as expectativas e aspirações dos alunos podem, eventualmente, ser inculcadas por factores externos, será o ambiente escolar, com toda a carga que esta expressão acarreta, que virá a acentuar as suas capacidades e a moldar os seus comportamentos pela vida fora, reflectindo-se em contributos, mais ou menos positivos, nas comunidades onde vierem a inserir-se. A educação, de facto, será, assim, o resultado das aprendizagens que ocorrem durante o processo formal de ensino acrescido das experiências informais a que os alunos são expostos nas escolas. Deste modo, a maioria das aprendizagens dos alunos, bem como a sua qualidade, depende dos esforços conscienciosos, abnegados e laboriosos dos professores, sem os quais, provavelmente, a educação nunca se processará integralmente.
Assim sendo, o dilema que ora se nos coloca, com um braço-de-ferro declarado entre os professores, os alunos (e os seus pais?) e a ministra da Educação, traz consigo prejuízos avultadíssimos para os alunos e sequelas que, caso a situação continue, podem revelar-se desastrosas em termos de resultados escolares. Esta situação, sem precedentes nas últimas décadas, não emerge, subitamente, com o problema da avaliação dos professores, mas é consequência de uma política educativa infeliz que nos últimos anos tem contribuído para a degradação do ensino no País. Os erros têm-se sucedido, traduzidos numa catadupa de decisões políticas nada consentâneas com os resultados da investigação mais recente, apoiada em práticas educativas eficazes, por oposição a deliberações que, meramente, pretendem soar convincentes. Não soam. E por não soarem é que, cada vez mais, as carruagens se afastam da locomotiva ao ponto de poderem prescindir dela.
Luís de Miranda Correia
(Professor catedrático na Universidade do Minho)
Fonte: Diário de Notícias
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