José Sócrates tem colada a si toda uma colecção de adjectivos: autoritário, casmurro, agressivo, quezilento, intransigente ― e é melhor ficar-me por aí…
Mas recentemente descobri mais um: humano. Como todos os virginianos, ele não gosta de mostrar o seu lado mais íntimo; mas, aquando da tragédia da falésia algarvia, houve qualquer coisa que furou a sua carapaça defensiva e veio ao de cima. Porque, ao dizer palavras de condolência, a voz quebrou-se-lhe, tremeu, a emoção notou-se. Afinal, o «animal político» também é humano…
Mas quantas pessoas, além de mim, terão fixado esse pormenor que durou apenas uns instantes televisivos? Não muitas. E isso, em termos eleitorais, não tem peso praticamente nenhum. Ora José Sócrates necessita de votos, muitos votos, para continuar a ser o primeiro-ministro ― e não será por aí que lá vai.
Por isso anda agora, andam todos os líderes partidários, numa roda-viva de arruadas, comícios e debates televisivos, para mostrar ao povo que ele (eles) é (são) a escolha mais acertada. Acho que 90% do que dizem acabam por ter o mesmo destino que terá tido a «fraqueza» emocional de Sócrates no Algarve: isto é, passam despercebidos ― ou, pior do que isso, não encontram terreno fértil em que possam desabrochar votos nas urnas. Mais do que tanto trabalho, vale uma promessa bem concreta.
Manuela Ferreira Leite teve uma: jurou solenemente que, se «for» ela, acabará com o malfadado «romance» da avaliação dos professores. Ora, em Lisboa, houve manifestações de rua que reuniram mais de cem mil professores. Chegado o momento do ajuste de contas, não haverá, entre professores e familiares, largas dezenas de milhares de votos perdidos pelo PS? Em desespero de causa, Sócrates admitiu que houve «falta de delicadeza» no tratamento da questão. Mas irá ainda a tempo?
Maria de Lurdes Rodrigues, ressentida, já afirmou que a paz com os professores sairá muito cara ao país, a dar-se a mudança de política prometida pelo PSD. Mas entretanto deveriam, ela e Sócrates, interrogar-se sobre qual o preço que o PS vai pagar em breve por ter iniciado uma espécie de guerra privada com uma classe profissional…
Fonte: Jornal de Notícias
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